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21 de abril de 1792: Tiradentes é executado na forca
Como se sabe amplamente, Joaquim José da Silva Xavier, militar e dentista (prático), mais conhecido como Tiradentes, foi o único condenado à morte por conta da chamada Conjuração Mineira, movimento que pretendia a independência brasileira do domínio português. Apesar dos apelos à clemência à rainha de Portugal, ele foi enforcado no dia 21 de abril de 1792. Somente um século depois de sua morte, com a chegada da República, sua memória foi resgatada do esquecimento e promovido ao posto de primeiro herói nacional.
REABILITAÇÃO
Quando da independência brasileira, apenas 30 anos depois da execução, Tiradentes não foi reabilitado nem muito menos elogiado como mártir da nacionalidade. O fato é que Joaquim José fora condenado à morte pela monarquia portuguesa, que era a mesma que continuou como monarquia no Brasil independente. Dom Pedro I, primeiro imperador do Brasil, era neto de Dona Maria I, a rainha de Portugal que havia recusado os pedidos de clemência e assinado a condenação à morte do mineiro revoltoso.
QUESTÃO SOCIAL
Joaquim José era aferes, patente que hoje corresponde a segundo-tenente, o que conferiu a ele um problema a mais quando foi acusado de sedição, pois como militar tinha a obrigação de ter denunciado a conspiração contra a coroa, posto a rainha ser a sua comandante-suprema. Os demais conspiradores foram condenados a penas menores, até porque o movimento foi pífio, não teve apoio popular e nunca ameaçou o domínio português sobre o Brasil. Mas o poder colonial precisava deixar claro quem mandava no pedação e mandar uma mensagem de que não admitia a separação de uma colônia. Joaquim, além de militar de carreira, era o mais humilde entre as lideranças insurrecionais, posto ser aquela agitação uma ação da elite de Minas Gerais contra o pagamento de impostos, especialmente o “Quinto” (20%) cobrado pelo reino sobre o ouro garimpado – queriam mesmo era a independência em relação ao fisco.
RECOMHECIMENTO REPUBLICANO
Como a Inconfidência mineira pretendia uma República para o Brasil e Tiradentes era militar, e, em 1889, a República foi costurada pela espada dos militares, o mártir mineiro foi imediatamente elevado à condição de herói nacional. Em 1890, o dia 21 de abril, data do martírio do Alferes Xavier, foi decretado por Deodoro como feriado Nacional. Mas persistiram resistências, herdadas do pensamento elitista colonial, ao status de grande herói nacional conferido a Joaquim José. Aos poucos, isso foi sendo mudado, mas com algum debate sobre o tema.
REFERÊNCIA POPULAR
Na Assembleia Nacional Constituinte de 1946, o deputado comunista José Claudino (PCB/RJ) impulsionou um movimento comparando os soldados brasileiros que participaram da II Grande Guerra com os heróis anteriores à independência, o que deixou os poderosos de plantão preocupados com um reconhecimento popular de lideranças brasileiras que tivessem sido rebeldes, em seu tempo, contra a elite nacional. Num de seus discursos no plenário, disse o deputado do Partido Comunista: “os expedicionários cumpriram sua grande missão, correspondendo aos anseios do povo brasileiro. Em nada ficaram a dever aos vultos do passado que o nosso povo ama e cultua. Herdeiros e continuadores de nossas tradições históricas de glória, enfileiram-se ao lado de Zumbi, Tiradentes, Frei Caneca e tantos outros. O seu esforço é digno do reconhecimento de todos os sinceros antifascistas e democratas”. Naquele ano, Tiradentes foi designado como “Patrono das Polícias Militares”, em 1965, promovido a “patrono cívico da nação brasileira” e em 1989, formalizado como “herói da Pátria”.