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Vem aí, para bombar, o Bumba Meu Boi em seu 6º Festival

Por Enio Lins 18/12/2025

CONFIRMADO PARA OS DIAS 19, 20 e 21 de dezembro o 6º Festival Alagoano de Bumba Meu Boi, numa promoção da Secretaria Estadual da Cultura, em parceria com Liga de Bumba Meu Boi de Alagoas. O evento será no estacionamento do Estádio Rei Pelé, o popular Trapichão, com apresentações a partir das 18 horas. Mais de 30 grupos estão inscritos. Notícia importante, pois as manifestações da chamada cultura-raiz precisam de apoio real, efetivo, dos poderes públicos para seguirem adiante, não só sobrevivendo, mas ampliando seus espaços.

NO PASSADO RECENTE,
o Bumba Meu Boi, enquanto folguedo popular alagoano autêntico, passou por uma série de intercorrências que catapultaram esse festejo para posições de grande destaque numa sociedade que se distanciava dos pastoris, cheganças, reisados – e até do alagoaníssimo Guerreiro. Na contracorrente, nos anos 90, os Bois ganharam a capital, num processo iniciado na gestão Ronaldo Lessa (1993/1996) e atingindo o auge sob Kátia Born (1997/2004).

RANILSON FRANÇA,
estudioso e militante da cultura popular, vivente entre 1953 e 2006, sempre alertou que esse folguedo alagoano, originalmente, se chamava de Boi de Carnaval, e tinha características que o distinguiam do Bumba Meu Boi praticado no Maranhão. O saudoso e insubstituível pesquisador, levado prematuramente por um câncer aos 53 anos, tinha preocupações com os efeitos da influência das tendências da moda sobre as manifestações de raízes ancestrais, mas sempre apoiou e promoveu a exposição pública, em palcos privilegiados, dos chamados folguedos autênticos. Os riscos são inevitáveis, mas não invencíveis.

BRUNO CAVALCANTE,
um dos mais importantes pesquisadores sobre a cultura popular alagoana, destaca a importância da centralidade para essas manifestações de raízes autênticas e me lembrou, ontem, do impacto positivo do Bumba Meu Boi (ou Boi Bumbá, ou Boi de Carnaval, acrescento eu por conta própria) quando o folguedo ganhou palcos no perímetro mais cobiçado na capital alagoana, a orla Pajuçara/Ponta Verde. Foi um momento de valorização e divulgação da cultura-raiz local, digo eu também, tentando escrever sobre a visão do Bruno. Nesse sentido, certamente a definição do local para sexta edição do festival foi resultado de alguma impossibilidade momentânea de manter o evento no perímetro de maior visibilidade em Maceió, a orla Pajuçara/Ponta Verde. Estar no foco de maior atenção, obviamente, possibilita alcançar públicos bem mais amplos e diversificados e uma capacidade de espalhamento sem comparação. O ideal mesmo seria uma interação entre governo do Estado e prefeitura de Maceió para que esse tipo de evento pudesse ser fixado nos perímetros de maior visualização.

NOS ANOS 90,
essa centralidade captou artistas de renome nacional, como Leila Pinheiro, cantora e compositora, que, a convite de Kátia Born e Patrícia Mourão, passou uma temporada em Maceió testemunhando o Bumba Meu Boi alagoano e inspirou uma das faixas de seu CD “Na ponta da Língua”, gravado em 1998. Péu Lyra, integrante da equipe Mellina Freitas, é uma produtora de talento que participou das experiências dos anos 90, e levou essa vivência para a Secretaria Estadual de Cultura, garantindo assim uma linha de continuidade nessa política de parceria e de promoção. Como resultado, temos a sexta edição do Festival Alagoano de Bumba Meu Boi. Parabéns. Creio que a meta deva ser retomar a centralidade tal qual como destacada por Bruno Cavalcante, geolocalização que não é excludente com a preservação das atividades cotidianas do folguedo, em seus muitos grupos de praticantes, em suas bases originais, endereços onde estão fincadas suas raízes – mas para os espetáculos, para os festivais, devemos reconquistar os espaços de maior visibilidade. E, de 19 a 21 deste dezembro, vamos lá, no estacionamento do Rei Pelé, ver a boa boiada passar em festa.

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