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Manoel Lisboa e a memória viva da luta contra a ditadura

MANOEL LISBOA DE MOURA é uma das referências da resistência ao regime de terror e corrupção implantado no Brasil em 1º de abril de 1964. Amanhã, dia 18, será lançado um livro sobre sua vida, sua luta, sua morte - e sua imortalidade enquanto exemplo. O ato será às 15 horas deste sábado, no SINTIETFAL, Rua França Morel, nº 136, Centro de Maceió. Edval Nunes, o Cajá, companheiro de militância do biografado, é o palestrante.
MERECE APLAUSO a iniciativa de mobilização em torno da biografia de um ativista das causas socialistas e humanitárias, especialmente num momento de persistente aguçamento do ódio da extrema-direita sobre quem defenda a democracia, o socialismo e o humanitarismo. A hora é essa para não se intimidar e para propagar os exemplos de quem se destacou na luta antifascista, quem ousou combater uma ditadura assassina e quem se atreveu a, sob as condições mais perigosas, propor um sistema alternativo ao capitalismo, socialmente mais justo e politicamente mais representativo para as classes trabalhadoras e para as camadas excluídas ou discriminadas.
DENTRE AS LIDERANÇAS opositoras à ditadura militar de 64, nascidas em Alagoas, pelos levantamentos da Comissão da Verdade, seis foram assassinadas: Gastone Beltrão, Jayme Amorim de Miranda, José Dalmo Guimarães Lins, José Gomes Teixeira, Luiz Almeida Araújo, Manoel Fiel Filho, Manoel Lisboa de Moura, Odijas Carvalho de Souza e Túlio Roberto Cardoso. Os corpos de Jayme, Luiz e Túlio jamais foram encontrados. Manoel Lisboa foi preso na cidade do Recife em 16 de agosto de 1973, levado ao DOI-CODI do IV Exército e barbaramente torturado durante dias a fio. Se estima que seu assassinato tenha ocorrido perto do dia 4 de setembro, data em que a militante Maria do Carmo Tomáz, ao ser torturada, foi informada da morte do alagoano.
CONHECIDO PELOS CODINOMES de Galego, Celso, Zé, Mário, Manoel nasceu em Maceió no dia 21 de fevereiro de 1944, informa artigo de Luís Alves, publicado no jornal A Verdade. O resumo biográfico prossegue: “filho de Augusto de Moura Castro, oficial da Marinha, e de Iracilda Lisboa de Moura. Ainda adolescente, organizou o grêmio do antigo Liceu Alagoano, depois Colégio Estadual. Foi diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (UESA) e, aos16 anos, ingressou na Juventude Comunista do PCB. Como universitário, organizou o Centro Popular de Cultura da UNE (CPC) em Maceió. O golpe militar de 1964 o encontrou cursando Medicina na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), de onde foi expulso, também cassando seus direitos políticos. Nessa ocasião, pertencia ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB)”.
CASADO COM SELMA BANDEIRA, sua colega do curso de Medicina e companheira de lutas contra a ditadura, Manoel participa da criação do Partido Comunista Revolucionário, em maio de 1966, tendo como camaradas fundadores Selma, Amaro Luiz de Carvalho, Ricardo Zarattini Filho, Valmir Costa e mais ativistas. A base da nova agremiação passa a ser prioritariamente o Nordeste. Em 1973, a repressão aperta o cerco, inclusive com o deslocamento do criminoso delegado Sérgio Fleury e sua equipe, de São Paulo para Pernambuco, com a finalidade de prender militantes da resistência e desbaratar organizações de esquerda no território nordestino. Dentre os presos na cidade do Recife estão Manoel e Selma. Em Maceió, nessa mesma operação da polícia política, são detidos os estudantes universitários Dênis Agra, Breno Agra, Dênisson Menezes, Fernando Costa, Jefferson Costa, Norton Sarmento, dentre outros militantes do PCR.
MANOEL LISBOA jamais renunciou a seus ideais. Não se dobrou frente aos perigos, foi assassinado sem colaborar com seus captores. Apostou num Nordeste e num Brasil sem injustiças sociais tão gritantes – um sonho que é sonhado junto por mais gente a cada dia, cada noite, cada manifestação, cada eleição.