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De Santa Luzia do Norte para o mundo, a música do Maestro Fon Fon

Por Enio Lins 08/08/2025

CLAUDEVAN MELO, o maior colecionador de tudo o que se produziu de música que tenha a ver com Alagoas, está com mais um livro pronto para ser lançado. Data marcada: 16 de agosto, daqui a oito dias. Local determinado: Espaço Cultural da UFAL na Praça Sinimbu, Centro. O tema? Maestro Fon Fon.

AFIRMA O AUTOR:
“A intenção de escrever este livro sobre a produção artística do maestro Fon Fon, deveu-se a minha iniciada vida de colecionador quando vivi em São Paulo de 1970 a 2022, e neste período tomei conhecimento de grupos que colecionavam música brasileira e seus agregados como, discos em 78rpm, partituras, revistas e literaturas em geral da chamada Era de Ouro do Cancioneiro”. Aplausos de entrada, pois Claudevan, extraordinário garimpeiro cultural, precisa dar saída à, pelo menos, uma ínfima parte do que tem ajuntado ao longo dessa sua incansável jornada centrípeta, arrebatadora – aqui no sentido exato da palavra.

“OCTAVIANNO DE ASSIS ROMEIRO 
(Fon Fon), filho de Amaro Romeiro de Assis e Luzia de Assis, nasceu na fazenda Maribondo, posterior Fazenda Grande, nas cercanias do município de Santa Luiza do Norte, em Alagoas, no dia 31 de janeiro de 1903 e faleceu em 10 de agosto de 1951 em Atenas, Grécia”,
resume o biógrafo. E acrescento eu: Fon Fon é tio-avô do grande ator contemporâneo Chico de Assis. Do livro em tela, no item “família”, me emocionou uma singela carta de Fon Fon para Amaro, enviada de Atenas para Santa Luzia do Norte, talvez a derradeira: “Meu pai. Não podia deixar de lhe comunicar a minha última parada. No momento encontro-me na Grécia, onde todos os costumes são diversos de toda Europa. Deixei de lhe escrever estes meses, porque não me demorei em nenhum país mais de um mês, de modo que espero demorar no mínimo três meses neste belo país. Pretendo seguir depois para o Brasil. Já me encontro cansado de todos os dias a mesma luta e sem esperança de mais nada. Conheço toda a Europa, elevei a música do nosso país, fiz a música brasileira ser conhecida, embora monetariamente não me tenha dado resultado. Porém estou contente com o que Deus me deu. Aqui deixo meu abraço a todos da nossa família, desejando um ano cheio de felicidade e um próspero 1951. Minha benção e que Deus os guarde. Octavianno. Dezembro de 1950”.

É IMPRESSIONANTE
a trajetória do Maestro Fon Fon. “Durante sua adolescência, não perdia as festas de ‘Zabumba’, termo usado para designar as bandas de pífanos nas festas votivas da padroeira da região, assim como nos eventos cívicos. Desta forma, aprendeu a tocar pífano no conjunto da família Mugamba do povoado Quilombo” – tomando como referência apenas este curto trecho do livro se percebe quantas opções de novas pesquisas se descortinam: ancestralidade das bandas de pífano em Alagoas; festas de padroeiras & música; afrodescendência... Esta é uma das grandes qualidades de uma obra como a de Claudevan em torno da obra de Fon Fon – inspirar novas pesquisas. Repetindo a classificação dada pelo saudoso Moacyr Sant’Ana: “Trata-se de um livro-ferramenta”, ou seja, um livro que não só informa, mas orienta (também) a construção de outros livros.

DAS MARGENS ALAGOANAS
dos rios e das lagoas sempre brota muita música. Assim reza a tradição. Fon Fon, vindo da beirada da Lagoa Mundaú, não é um acidente de percurso, é talento característico das águas doces das Alagoas. Hekel Tavares surgiu das margens do Rio Mundaú, Egildo da Flauta nasceu na ribeira do lado de cá do São Francisco, onde se ouvem ainda as rampeiras, e na orla da Lagoa Manguaba florescem filarmônicas preciosas e instrumentistas de enorme talento.

NO LIVRO DE CLAUDEVAN MELO 
sobre o Maestro Fon Fon, não apenas se encontra um passado radioso, mas se descortina um futuro brilhante – desde que se invista mais nos talentos musicais alagoanos.

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