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E o mais destacado dos prefeitos de Quebrangulo partiu no rio que amava

Por Enio Lins 07/08/2025

MARCELO LIMA se foi. Notícia muito chocante para qualquer pessoa que tenha tido a honra de tê-lo conhecido, mesmo de relance. Seis vezes prefeito de Quebrangulo, sua cidade natal, pela qual nutria uma genuína paixão. Se foi nas águas do rio Paraíba do Meio, uma das referências quebrangulenses, inesperadamente, e entrou para a história.

EMERGIU NA POLÍTICA pela via do movimento estudantil, ainda como calouro na Universidade Federal de Alagoas, em 1979, com a criação do Centro Acadêmico de Agronomia, compondo a primeira diretoria. Os centros acadêmicos (CAs) foram fundados de forma independente, em contestação às regras impostas pelo Decreto 477, considerado o “AI-5 para estudantes”. Mais tarde, nos anos 80, fez parte da diretoria do Diretório Central dos Estudantes. Mas sua base de militância propriamente dita era Quebrangulo. Administrar sua cidade foi o foco principal de sua existência, mesmo mantendo grande atenção à produção rural, como “o agrônomo mais veterinário que conheci”, relembra Mário Agra, citando o sucesso de Marcelo, entre outros experimentos, na sua combinação da cultura do milho como silagem destinada ao gado leiteiro. Não sem motivo, o único cargo que lhe mobilizou na vida pública, além da prefeitura quebrangulense, foi a direção da ADEAL (Agência de Defesa Agropecuária de Alagoas). Seu filho, Davi Maia, se destacou como Deputado Estadual e mantêm-se na lide, construindo caminho próprio na política.

QUEBRANGULO
era seu Norte. Marcelo conhecia minuciosamente a cidade, estudava tudo sobre seu município. Realizava-se como prefeito. Já se preparava para a campanha de 2028, visando a sétima eleição para o cargo. Fiel às raízes e amante da História, pesquisou os caminhos da família do pernambucano Leão Coroado, José de Barros Lima, personagem central e deflagrador da rebelião de março de 1817, executado no Recife em 10 de julho do mesmo ano. Temendo as perseguições em Pernambuco, os familiares de Barros Lima se abrigaram na recém-emancipada terra das Alagoas e aqui prosperaram. Em 16 de setembro do ano passado, esta coluna publicou um texto dando conta de que “Alípio Coelho de Barros Lima, neto de José, o Leão Coroado, foi o primeiro prefeito de Quebrangulo, em 1872, e depois prefeito de Viçosa, em 1892 – atesta Marcelo Lima, descendente do mártir pernambucano e hoje prefeito de Quebrangulo”. Pois é: o gentil Marcelo sempre repassava, compartilhava dados de seus estudos, sendo parceiro na divulgação do saber, coletivizando conhecimentos.

NO FINAL DO ANO PASSADO
, já se preparando para o encerramento de seu sexto mandato na prefeitura, incluiu entre suas tarefas a publicação de um livro autoral. O tema? Quebrangulo. Me ligou solicitando uma caricatura. Uma demanda muito honrosa. Para compor o desenho, Marcelo enviou duas fotos de ícones da arquitetura da cidade. E explicou o porquê de cada um deles vir a ser integrado à sua caricatura. Eram as imagens do mais belo palacete da urbe onde nasceu Graciliano Ramos, e de um imponente obelisco encimado por um busto. Ambos os monumentos impecavelmente pintados em branco e amarelo/ocre. Como quase sempre a melhor solução é a mais simples, a opção foi caricaturar o longilíneo Marcelo, com o sorriso que era sua marca, segurando em cada mão um quadro com a foto da obra a ser destacada. Ele gostou do resultado. Falou que publicaria só depois de deixar a prefeitura. Há algumas semanas me ocorreu ligar para perguntar se o livro havia sido impresso, mas deixei para depois. Fica a velha lição de não deixar para depois nada que tenha importância – “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, como cantou Geraldo Vandré. Mesmo atrasado, companheiro Marcelo, vou atrás de seu livro.

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