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Da Madalena do Sumaúma a Marechal, e antes, uma longa história

HOJE, 5 DE AGOSTO, a cidade de Marechal Deodoro completa 434 anos. A certidão de nascimento é o documento da doação de uma sesmaria para Diogo Soares da Cunha, feita pelo titular da capitania de Pernambuco, Pedro Homem de Castro, em 1591 – conforme registrado pelos historiadores Craveiro Costa e Adriano Jorge.
SESMARIA ERA UM LOTE de terra considerado “inculto”, cedido para exploração de culturas rurais, segundo a Lei das Sesmarias, editada em 1375, pelo então rei de Portugal, Fernando I (monarca entre 1345 e 1383). Assim, por esta lei com quase 200 anos de vigência em sua época, Diogo tornou-se sesmeiro de um feudo compreendido entre Pajuçara e o Porto do Francês, com cinco léguas de frente pro mar e sete léguas de extensão a partir da praia. Pela medição contemporânea, seria – considerando a “légua nordestina” igual a seis quilômetros – uma área total de 1.260 km². Mas existem indicações que a légua terrestre no período colonial português equivalia a 6,6 mil metros. Entretanto, para economizar discussão, podemos concordar que era um lote gigantesco para os padrões atuais, e um nada para o território a colonizar no século XVI. E nessa vastidão toda, como identificar a atual Marechal?
“DIOGO SOARES CUNHA deixou Portugal e chegou à capitania de Pernambuco em 1596, mesmo ano em que se transferiu para o povoado de ‘Magdalena’. Craveiro Costa indica que o lugar era, provavelmente, o atual bairro de Taperaguá, à margem do Rio Sumaúma (que recebe o Riacho Utinga) e da Lagoa Manguaba” – assinala Edberto Ticianeli no site História de Alagoas, resumindo os escritos de Craveiro Costa e Adriano Jorge. O povoado, portanto, já existia antes da chegada do primeiro proprietário. Muito provavelmente foi ocupado por colonizadores em período anterior a 1591, quando o governante Pedro de Castro, em nome do rei Felipe I (“O Prudente”, monarca entre 1581 e 1598), atendeu ao pedido do reinol Jorge Coelho em benefício do sobrinho Diogo. Haveria outras povoações colonizadoras naquela imensidade de terra? Certamente. Mas o sesmeiro se dirigiu àquela das proximidades da foz do Sumaúma. Ponto.
434 ANOS DE EXISTÊNCIA num país que existe há 525 anos é um marco nacional. E internacional, considerando a história do “Novo Mundo”, cuja primeira povoação de europeus, Santo Domingo, atual capital da República Dominicana, no Caribe, foi fundada em 1498, por Bartolomeu Colombo, irmão de Cristóvão Colombo. Marechal Deodoro, que já teve outras denominações (Madalena do Sumaúma, Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul, Vila e cidade de Alagoas), é um dos mais antigos laços com a História das Américas e isso deve orgulhar, e muito, toda população alagoana. No quesito antiguidade, das cinco maiores cidades das Américas – São Paulo (1554), Cidade do México (1521), Nova Iorque (1624), Buenos Aires (1536), Los Angeles (1781) – quatro foram fundadas nos anos 1500, tal qual a alagoaníssima Marechal e outras tantas urbes hoje integrantes do patrimônio histórico pan-americano.
ASSIM COMO A CIDADE DO MÉXICO, edificada sobre a extraordinária metrópole pré-colombiana Tenochtitlán, é provável que todas as povoações colonizadoras tenham se estabelecido sobre assentamentos indígenas: era mais prático ocupar terrenos “limpos” do que abrir – do nada – clareiras em espessas florestas. Nesta hipótese, as pioneiras vilas colonizadoras alagoanas, às margens dos rios Sumaúma, São Francisco (Penedo, 1596) e Manguaba (Porto Calvo, 1575), devem ter sido sítios desflorestados e povoados antes por tribos nativas. Cada uma dessas atuais cidades, além do quase meio milênio de história escrita, contém histórias imemoriais das populações originárias. Ao celebrar, portanto, seus 434 anos de existência, Marechal Deodoro celebra algo ainda maior, e com muito mais histórias a descobrir.
5 DE AGOSTO, além de marcar o nascimento da cidade hoje chamada de Marechal Deodoro, marca também o nascimento de Manuel Deodoro da Fonseca - em 1827 - que se tornaria herói da Guerra do Paraguai, proclamador e primeiro presidente da República. Mas aí é tema para outro artigo, noutra ocasião.