Posts
Golpe como estratégia, tática, e fardamento do mau militar

MARCELO GODOY, jornalista e escritor, vencedor dos prêmios Jabuti e Sérgio Buarque de Holanda, publicou em sua coluna no Estadão, há três dias, um contundente artigo intitulado “A ‘rataria’ quer envolver o Exército na trama do golpe”, tendo como bigode: “Oficiais tentam constranger generais do Alto-Comando com o objetivo de colocar a Força Terrestre no banco dos réus”. No alvo!
ANALISA CORRETAMENTE, o jornalista, ação e reação ocorridas no Supremo Tribunal Federal, quando dois militares, ambos tenentes-coronéis, apresentaram-se fardados para prestar depoimentos sobre a tentativa de golpe. Incontinenti, o Ministro Alexandre de Moraes – ele mesmo, o terror dos golpistas – determinou que a dupla vestisse trajes civis para serem ouvidos pela Justiça na condição de réus. As fardas, indevidamente envergadas naquelas circunstâncias, significavam algo traiçoeiro e de tradição nefasta.
“TENTAR LEVAR A CRISE para o CIE (Centro de Inteligência do Exército) é tudo o que os réus desejam. Seria comprometer não só o então comandante do Exército, general Freire Gomes, mas o seu entorno. Eis porque a ‘rataria’ queria depor com uniforme. Não por outra razão, Moraes determinou que os réus não podiam vestir a farda. ‘A acusação é voltada contra os militares, não contra o Exército’. O ministro pode ser chamado de muitas coisas, menos de ingênuo”. Essa é a síntese, correta, feita por Godoy sobre o episódio.
USAR O ESPÍRITO DE CORPO é coisa do espírito de porco. E não apenas militares lançam mão desse estratagema cínico: ao ser pego numa falcatrua, o meliante infla o peito e brada: “minha categoria não faz isso!” – pronto, o delinquente empurra a conta de sua delinquência individual para o lombo do coletivo do qual faz parte, apostado que o grupo, a instituição, reaja a seu favor. A manobra, velha e solerte, é mais ou menos assim: suponha que o covarde que massacrou a namorada com mais de 60 (sessenta) socos, em Natal/RN, se apresente vestido com o uniforme de atleta e brade: “Jogador de basquete não agride uma mulher!!” – quem joga basquete iria ter solidariedade com aquele canalha?
SEGUE GODOY: “As versões dos réus estão cheias de pérolas, como dizer que a reunião na casa do general Walter Braga Neto e aconteceu por acaso ou que o plano para matar Alexandre de Moraes foi impresso em três vias, mas só para o general Mário Fernandes ler. Isso mesmo: três vias, mas apenas para os olhos do general”. Já no primeiro parágrafo, o analista identifica a marmota: “Os réus apareceram fardados. E tentaram trazer para o processo da trama golpista os generais Alcides Valeriano de Faria Júnior e Luiz Gonzaga Viana Filho. O primeiro comandava a 6.ª Divisão (6.ª DE) e o outro, o Centro de Inteligência do Exército (CIE) nas messes que antecederam a intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023. Ambos ganharam a quarta estrela na última promoção decidida pelo Alto-Comando da Força”. Ou seja: tentaram puxar para a fossa oficiais que não participaram da armação golpista como forma de embaralhar o processo e “sensibilizar” a tropa.
VIVE O BRASIL um momento de grande relevância histórica, um divisor de águas pela gigantesca novidade de apurar e punir uma tentativa de golpe de Estado que envolveu militares da ativa e civis do que deveria ser a elite nacional. É um exemplo para o mundo. E, justiça seja feita: até agora o efetivo militar tem desarmado todas as tentativas da banda podre, minoria viciada, como se viu no 8 de janeiro. Um grande exemplo de cidadania e profissionalismo. Ah, sim: esse é mais um fator que desagrada, exaspera, toda uma linhagem de autocratas estrangeiros, como Trump, que sempre tiveram na subserviência da minoria fardada golpista o principal ponto de apoio para a destruição das democracias alheias e subversão da independência das nações.