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Uma carta, endereçada à Alagoas, retirada dos baús da história

Por Enio Lins 05/07/2025

NO EMBALO DAS COMEMORAÇÕES pelo 2 de julho, em mais um reforço sobre o patriotismo e as batalhas pela independência brasileira, muito se publicou sobre os combates na Bahia, tido como o derradeiro capítulo da separação entre Brasil e Portugal. Em seu endereço no Instagram, o Arquivo Nacional postou um documento assaz (com se escreveria antanho) interessante, e especialmente valioso para a história alagoana: uma comunicação, e/ou convocação pública ao governo e ao povo da Província das Alagoas, datado de 20 de fevereiro de 1823.

JOSÉ JOAQUIM DE LIMA E SILVA,
militar de carreira e comandante de tropas leais ao Imperador Pedro I, à frente de seu regimento, transitando de Pernambuco em direção à Bahia, com o fito de dar combate às tropas portuguesas que resistiam à independência brasileira, envia uma carta aberta ao governo e à população de Alagoas, solicitando apoio para a travessia do território alagoano. Joaquim vem a ser tio do futuro Duque de Caxias, Luiz Alves de Lima e Silva. Essa manobra, de alcançar a Bahia pelas trilhas alagoanas, foi uma das ações militares essenciais para a vitória brasileira em 2 de julho de 1823.

NOS ÚLTIMOS ANOS
tem crescido a valorização nacional da expulsão das tropas portuguesas da Bahia, acontecida em 2 de julho de 1823. A vitória brasileira nesses combates sempre foi comemorada com pompa e circunstâncias pelo povo baiano, com celebração especial para as figuras heroicas locais, como a Sóror Joana Angélica, religiosa considerada a principal mártir do processo de independência, e a soldada Maria Quitéria, que se disfarçou de homem para lutar contra as tropas portuguesas.

NESTE 2 DE JULHO DE 2023
, Lula esteve em Salvador para, in loco, assinar o decreto que confere à data o status de marco nacional do processo de independência brasileira. Medida acertada, justa. Mas mais acertado ainda é reconhecer também as outras batalhas pela libertação do Brasil de Portugal, inclusive as vencidas pelos brasileiros depois do 2 de julho na Bahia. A Batalha do Jenipapo, no Piauí, se deu em 13 de março; a campanha do Maranhão foi encerrada em 28 de julho; e os combates pelo Pará findaram em 13 de agosto – todas em 1823.

SEGUE A CARTA:

“José Joaquim de Lima e Silva, oficial da Ordem Imperial do Cruzeiro, Cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis, Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial e Coronel do Batalhão do Imperador.
Habitantes da Província das Alagoas! Sua Majestade, o Imperador Constitucional do Brasil, magoado pela série de males que os pacíficos povos da Bahia têm sofrido das tropas europeias que os querem escravizar, tem determinado as mais enérgicas providências a fim de que as ditas tropas sejam imediatamente expulsas daquela província, para que esta venha a gozar da propriedade em que se acham todas as outras que estão ligadas ao Grande Império. Portanto, tendo de desembarcar nas vossas praias, e de transitar pelo centro da vossa província, até a da Bahia, um corpo forte de caçadores, o Batalhão do Imperador, levando consigo artilharias, armamentos e munições, petrechos de guerra e caixa militar: depende de vós, oh, habitantes das Alagoas, o bom resultado desta expedição.
Nós precisamos [de] mantimentos e socorros para o transporte do trem e bagagem. A causa é do Brasil, é nossa, cada um deve concorrer para o bem dela conforme as suas forças: nós concorremos com as nossas armas, nossas vidas. Pois temos jurado vencer ou morrer. Vós deveis concorrer com os mantimentos e transportes que precisamos para podemos realizar os nossos votos. O Imperador e a nação confiam em vós, e devem esperar do vosso zelo e vosso patriotismo já mui reconhecidos, todos os sacrifícios pelo bem da grande causa do Brasil.
Bordo da Fragata União, 20 de fevereiro de 1823
José Joaquim de Lima e Silva”

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