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Anápolis, Rio, Montevideu, Pariconha, São Paulo, Brasília: a epopeia Aldo Arantes

Por Enio Lins 14/05/2025

ALDO DA SILVA ARANTES retorna a Alagoas para um circuito de atos públicos. Ele nasceu na cidade de Anápolis, Goiás, em 1938. Tornou-se célebre nos anos 1960 como líder estudantil. Cursando Direito na PUC do Rio de Janeiro, presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) entre 1961 e 1962, ano em que se mudou para Porto Alegre, onde, ao lado do governador gaúcho Leonel Brizola, participou da luta pela posse do vice-presidente João Goulart. Após o golpe militar de 1º de abril de 1964, exilou-se no Uruguai. E sumiu do radar da repressão até 1968, quando foi preso. Imaginam onde o goiano foi localizado?

PARICONHA FOI O LUGAR
onde Aldo Arantes, um dos líderes civis mais procurados pelos milicos de plantão, foi descoberto. Há 57 anos, o território dos índios Geripankó e Kalankó era um arruado isolado no município de Água Branca, Sertão alagoano. A rarefeita população local havia acolhido fraternalmente dois jovens casais de “paulistas” – um deles, “Roberto” e “Dodora”, com dois filhos pequenos, um menino e uma menina. Viviam sem sobressaltos, até que numa rara visita do governador Lamenha Filho à região, um dos forasteiros usou da palavra e ministrou uma entusiasmante aula de economia política em defesa dos agricultores locais. Bingo! Os comentários sobre o inusitado fato chegaram rapidinho aos ouvidos da DOPS (Delegacia da Ordem Política e Social) e dos serviços de informação do 20º Batalhão de Caçadores (Vinte BC). Seis pessoas foram presas: quatro adultos e dois menores.

NAQUELE ANO QUE NÃO ACABOU
, como bem definiu Zuenir Ventura, quando os “paulistas” foram detidos em Pariconha, o AI-5 ainda não tinha mostrado sua cara horrenda, e as comunicações eram lentas. Decifrar as identidades dos prisioneiros era coisa demorada. Nesse meio-tempo, as demais forças de esquerda em Maceió foram informadas pela AP (Ação Popular) que Aldo Arantes era um dos detidos na delegacia da Rua do Macena (Cincinato Pinto). E foi montada uma operação ousada e complexa para resgatá-los, pois caso o ex-presidente da UNE fosse identificado e enviado para São Paulo ou Rio, seria algo literalmente fatal. Da rocambolesca ação participaram várias lideranças alagoanas, como o saudoso médico José Rocha (PCB). Para encurtar essa história, os dois prisioneiros escaparam das grades do DOPS e sumiram no mundo, sãos e salvos. Em 1976, Aldo Arantes foi preso novamente pela ditadura, na capital paulista, desta vez vítima de uma operação extremamente violenta, a Chacina da Lapa, quando os militares assassinaram três de seus companheiros do Comitê Central do PCdoB (Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond).

COM A RECONQUISTA
de seus direitos políticos, a partir de 1982, foi eleito por quatro vezes como deputado federal por Goiás e uma vez como vereador em Goiânia. Autor de várias publicações, tem entre seus livros mais comentados “Alma em Fogo” (2013, memórias); “História da Ação Popular – da JUC ao PCdoB” (1984, em parceria com Haroldo Lima); e “Domínio das Mentes – do golpe militar à guerra cultural” – obra editada em 2024 em que trata da batalha pela hegemonia nas redes sociais e da ascensão da extrema-direita no Brasil e no mundo.

“DOMÍNIO DAS MENTES”
será lançado, com palestra de Aldo Arantes, nesta quinta-feira, no auditório da Associação Comercial de Maceió, às 19 horas, com presença confirmada da Ministra Delaíde Miranda Arantes, do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Evento organizado pela Fundação Maurício Grabois e aberto ao público. Na sexta-feira, às 20 horas, ato semelhante em Delmiro Gouveia, no Campus UFAL Sertão, antecedido, às 15 horas, por sessão solene da Câmara Municipal de Pariconha para entrega do título de cidadão honorário ao jovem goiano, conhecido como “Roberto” que ali habitou entre 1967 e 1968 e se expôs para defender os direitos dos agricultores sertanejos. Coloque na sua agenda e compareça a um desses, ou a todos, momentos de pura história: em Maceió, quinta-feira, 15; em Pariconha e Delmiro Gouveia, sexta-feira, 16.

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