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80 anos do fim de uma guerra mundial que nunca terminou totalmente

9 DE MAIO, DESDE 1945, é dia de entusiasmo para as populações que lutaram contra o Nazismo, especialmente nas áreas da então União Soviética, local em que os combates foram os mais terríveis. Neste ano, as comemorações são especiais por dois motivos: marcam uma “data redonda”, 80 anos, e acontecem em meio a uma guerra entre duas nações ex-soviéticas.
RÚSSIA E UCRÂNIA GUERREIAM desde fevereiro de 2022. Mas o pau já comia solto desde 2014, quando os russos retomaram a Crimeia, e apoiaram as populações russas no leste ucraniano. O fato é que a atual Ucrânia é uma invenção soviética, cuja delimitação das fronteiras procurou atender – via centralismo democrático – a anseios de grupos étnicos que não se suportavam há séculos. Esses confrontos se aguçaram com a II Grande Guerra Mundial, quando tropas ucranianas marcharam ao lado dos soldados nazistas na Operação Barbarossa. No chamado período pós-Stalin, nos anos 60, mais uma vez o centralismo do PCUS, via os ucranianos Kruschev e Kaganovich, passou para a Ucrânia territórios e populações historicamente russas, como a Crimeia, que há dois anos Moscou cuidou de pegar de volta. Daí a coisa azedou.
MOSCOU, desde 1945, sedia as comemorações pela derrota dos Nazistas em todo antigo perímetro soviético (nações unidas socialistas que existiu como ente uno de 1922 a 1991). Oficialmente, 15 países faziam parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas: Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Estônia, Letônia, Lituânia, Armênia, Geórgia, Moldávia, Azerbaijão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão, Turcomenistão, Uzbequistão. Foram invadidos em bloco pela Alemanha em 22 de julho de 1941, cujas tropas tinham como objetivo estratégico esmagar rapidamente as principais cidades, subjugar os povos eslavos e utilizar todo o potencial mineral e energético que Adolf considerava em mãos de “gente inferior”. Moscou e Leningrado chegaram a ser cercadas, mas o caldo entornou para Hitler em Stalingrado, onde as tropas soviéticas esbagaçaram o IV Exército alemão e dali iniciaram uma contraofensiva impressionante que, em maio de 1945, conquistou Berlim. No apurado final, o povo soviético perdeu 27 milhões de pessoas na II Guerra – o maior número de mortes, em termos absolutos e proporcionais, em todo conflito. Daí a comemoração da rendição nazista ser um dia de grande festa. Tem toda razão de ser, mesmo com a sólida URSS dissolvida no ar em 1991.
LONGE DO SONHO SOCIALISTA, uma Rússia capitalista – liderada por um ex-dirigente da KGB, em guerra com uma Ucrânia neofascista, comandada por um oportunista tipo Jüdische Ghetto-Polizei – comemora o Dia da Vitória Antinazista. Que coisa! Mas vale pelo que o 9 de maio (dia 8 no ocidente, pela diferença de fuso horário) representa para a humanidade. Vale pelo heroísmo de todas as pessoas que lutaram, sofreram, morreram, e – ao fim e ao cabo – derrotaram Hitler, Mussolini, Hiroito e todos nazifascistas que aterrorizaram o mundo entre 1933 e 1945. Vale pela força, determinação e capacidade de superação de diferenças entre lideranças como Roosevelt, Churchill e Stalin. Vale pelo exemplo da necessidade de não dar, jamais, nenhuma chance para retorno ao poder de nazistas, fascistas, supremacistas, racistas e deformações de todos os tipos.
ENFIM, EM NOME das vítimas da II Grande Guerra, estimadas entre 50 e 56 milhões de mortes, que o 80º aniversário do Dia da Vitória Contra o Nazifascismo possa iluminar corações e mentes em todos os matizes de democratas, centristas, esquerdistas, idealistas... para que se mantenham em união, atuando em frente ampla contra o espectro da extrema-direita que teima em rondar e aterrorizar o mundo. Como bradava aquela fantástica minoria francesa, indobrável, em revolta contra os nazistas: “Vive la résistance!”