Posts

Aquele abraço para a Academia Brasileira de Letras pela nova aquisição

Por Enio Lins 03/05/2025

MIRIAM LEITÃO FOI ELEITA para a Academia Brasileira de Letras. Parabéns pela escolha. A entidade passa a contar com uma escritora do primeiro time do vernáculo, uma comunicadora com presença e interação junto ao grande público em mais de 40 anos de profissão. São nomes como esse que qualquer instituição cultural precisa contar. Quanto ao quesito “relevância”, a ABL sempre deixou a desejar, sim. Mas é um símbolo, uma referência nacional, e um dia poderá jogar papel significativo. Vamos apostar nisso.

SÃO 11 OS LIVROS PUBLICADOS 
por Miram Leitão: 1) Convém Sonhar; 2) Saga Brasileira: A longa luta de um povo por sua moeda; 3) A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos; 4) Tempos Extremos; 5) A Menina de Nome Enfeitado; 6) Flávia e o Bolo de Chocolate; 7) História do Futuro: O horizonte do Brasil no século XXI; 8) A Verdade é Teimosa: Diários da Crise que Adiou o Futuro; 9) Refúgio no sábado; 10) A Democracia na Armadilha: Crônicas do Desgoverno; 11) Amazônia na Encruzilhada: O poder da destruição e o tempo das possibilidades. A vã filosofia supõe a escritora ser tão-somente uma “comentarista da TV Globo” – mas, verdade seja dita, se fosse apenas pelos comentários dela na rede de televisão mais assistida no Brasil, já mereceria cadeira cativa no Petit Trianon. Por falar nisso, antes dela, alguns de seus colegas de trabalho, como Merval Pereira e Joaquim Falcão, (com todo respeito aos dois, ambos menos expressivos que ela) já estavam sentados no sodalício machadiano.

ELEIÇÃO FELIZ ESTA
. Infelizmente nem sempre tem sido essa a regra na instituição fundada por Machado de Assis. Como simples cidadão, candidato a ler mais do que tenho lido até hoje, e observador bissexto das notícias da ABL, acho que as recentes não-eleições de Conceição Evaristo e Maurício de Souza foram dois gols contra que a Academia Brasileira de Letras chutou a seu próprio desserviço. Gols contra “de letra”. Bilhetes premiados que a ABL jogou pela janela. Não sei se essas duas fantásticas criaturas voltarão a se candidatar, mas torço pela presença da autora de “Ponciá Vicêncio” e do criador da “Turma da Mônica” na Academia Brasileira de Letras. Emblemático é notar que as duas principais personagens femininas de Conceição e de Maurício – “Ponciá” e “Mônica” – são díspares em suas existências fictícias, refletindo vidas muito distintas (antagônicas) no Brasil real tão trágico quando cômico. E, por falar em rejeições tremendamente injustas cometidas pela ABL, no topo dessa triste lista está Jorge de Lima, recusado em seis tentativas de vestir o fardão.

NOSSO CACÁ DIÉGUES
foi substituído à altura. Ela, como ele, tendo como atividade principal segmentos distintos dos formatos literários usuais nos idos de 1896, quando da fundação da Academia Brasileira de Letras. Um cineasta e uma jornalista – que não são de direita – parece ser algo incabível na estreiteza de quem vê a academia como um templo do conservadorismo. E há quem entenda a prosa e o verso como “únicos” gêneros capazes de qualificar quem possa fazer parte da ABL. E existe enxergue tanto Cacá quanto Miriam como “comunas”, assim como Nelson Pereira dos Santos, antecessor de ambos na cadeira nº 7. A tendência, especialmente em tempos polarizados, é passar a régua ideológica, produzindo raiva total à destra (por considera-la uma esquerdista irrecuperável) e alegria parcial à canhota (o vezo esquerdista condena Miriam por ela criticar atos das gestões petistas, ou por ter embarcado em ondas deletérias como a lava-jato). Ex-militante do PCdoB, presa (grávida) e duramente torturada durante a ditadura militar, Miriam Leitão consegue se colocar acima dos partidarismos. E considero importantíssimo seu posicionamento duro e corajoso, como uma das jornalistas mais ouvidas e lidas do Brasil, durante o quadriênio das trevas, criticando e denunciando o mito execrável, numa contribuição relevante à Democracia. Aplaudo-a.

PARABÉNS, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
, por ter Miriam Leitão. Agora, bote pra dentro de casa, também, Conceição Evaristo, Maurício de Souza, Djamila Ribeiro, Djavan... e outros nomes cujas luzes próprias podem contribuir para que a ABL possa brilhar de verdade, e vir a jogar um papel mais representativo, mais interativo, junto à cultura viva brasileira e com a maioria de nossa população.

Charges