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Fernando Collor de Mello e o mundo coberto de penas

FERNANDO COLLOR DE MELLO vive mais um momento dramático em sua vida pessoal e política. No momento em que esta coluna está sendo fechada, antes da posição final do STF sobre o decidido por Alexandre de Moraes, o ex-presidente seguia preso na sede da Polícia Federal em Alagoas. Desde as quatro horas da manhã de ontem, toda a mídia nacional cobre atentamente cada passo dessa tramitação.
TODA A TRAJETÓRIA de Fernando Collor é de grande destaque desde sua indicação como prefeito de Maceió em 1978, fato que surpreendeu os analistas de então. O movimento foi interpretado como indicativo de um futuro promissor (na época ele ainda era “o filho de Arnon de Mello” e personagem de realce nas crônicas noctívagas cariocas e brasilienses). Entre 1986 e 1988, sua passagem no governo alagoano o elevou à condição de astro da política nacional e, em 1989, sua eleição para a presidência da República – a primeira escolha pelo voto direto para presidente do Brasil, desde 1960 – o catapultou para a relevância mundial.
ELEITO AOS 40 ANOS de idade como presidente da República, Collor perdeu a presidência três anos depois, num clima de grande agitação popular por sua destituição. Renunciou quando da abertura da seção para julgar seu impedimento, através de carta lida por seu advogado, José Moura Rocha, mas foi “impichado” assim mesmo (já não mais presidente), com o Congresso buscando refletir a quentura das ruas e não a frieza das normas regimentais. Estaria completamente liquidado para política, era a opinião geral. Mas resistiu e manteve seu nome sob o escrutínio das urnas a cada quatro anos, a partir da reconquista dos direitos políticos.
EM 2006, O VOTO o reconduziu à cena nacional. Elegeu-se para o Senado, derrotando o então favorito, o ex-governador Ronaldo Lessa, que recém havia deixado o governo alagoano depois de sete anos e quatro meses de duas gestões bem avaliadas. O resultado surpreendeu a quase totalidade dos analistas daqui e alhures. Reelegeu-se, sem surpresas, em 2014. Mas não obteve êxito em 2022. O turbilhão de dificuldades se acentuou com a briga com a Rede Globo, quando o grupo fundado por Roberto Marinho decidiu cancelar a concessão global para a TV Gazeta depois de meio século de parceria. Nesse mar agitado, foram aflorando os icebergs das decisões judiciais desfavoráveis.
JUSTIÇA SEJA DITA, durante todas essas desventuras, Collor jamais se vitimizou com gestos do tipo produzir autofotografias numa cama de hospital, nem colou cateteres pelo lado de fora do nariz, nem – muito menos – tentou algum golpe de Estado. Tem recebido as decisões judiciais em seu desfavor sem tentar detonar os poderes constituídos nem atentar contra a Democracia. Batalha no lado de dentro da Constituição, o que é uma obrigação primária, sim, mas esse dever básico deve ser destacado como mérito quando o Brasil assiste a um outro ex-presidente manobrar de toda forma e jeito para fugir às responsabilidades por um magote de crimes dentre os quais se destaca a tentativa de golpe de Estado (implodida em 8 de janeiro de 2023).
CONHEÇO FERNANDO COLLOR desde 1985, quando de sua entrada no PMDB (na eleição de Djalma Falcão para prefeito de Maceió), e trabalhei na Organização Arnon de Mello entre 1996 e 2014, onde tive interlocução permanente com ele, ele na condição de acionista majoritário e eu como editor-adjunto da Gazeta e superintendente editorial da OAM. Ofereço meu testemunho sobre o ex-presidente como um jornalista de talento, redator e editor acurado, e (como todo mundo sabe) um político de ousadia impressionante, sempre temerário. Aos 75 anos de idade, 33 anos depois do impeachment que destroçaria qualquer um, ele se vê novamente numa sinuca de bico. Mas pode apostar que não está destroçado, nem aposentado. Aguardemos os próximos capítulos.