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Toda hora é hora e lugar de valorizar e promover a cultura-raiz

ÓTIMAS REALIZAÇÕES marcam este fim de semana no quesito “acontecimentos culturais”: O I Encontro de Bandas de Pífanos de Marechal Deodoro e a IV Festa Literária de Penedo. Essas linhas estão sendo remetidas ao prelo antes desses eventos findarem, daí não se lerá aqui um balanço consubstanciado, com números consolidados e descrição detalhada das cenas ocorridas. Mas, sim, uma avaliação dessas iniciativas.
INSISTIREMOS AQUI numa velha, e sempre jovem, tese: a importância estratégica deste tipo de produção. Em primeiro lugar, ressalve-se que os resultados quantitativos auferidos em tais realizações não se comparam com os números obtidos em espetáculos com as grandes estrelas da indústria artística-cultural. Não se ajuntará gente, espontaneamente, numa apresentação de uma banda de pífanos, ou dúzias delas, equivalente à multidão reunida em adoração à ícones como Wesley Safadão, Roberto Carlos, Ivete Sangalo, Anitta ou outras celebridades. No campo da literatura, qual é o valor de uma agenda literária com escritoras e escritores locais sem predominância de best-sellers de altos cachês? É o custo intangível de persistir investindo na chamada “prata da casa”, melhor escrevendo: “ouro da casa”. O mérito – em contornar o sucesso fácil de público – está em navegar contra a maré, irrigar na raiz, adubar o terreno ressequido, apostar na colheita futura.
ALAGOAS TEM EXEMPLOS de investimento correto nesses segmentos – coisa muito boa, embora em ocorrências minoritárias – coisa muito ruim. Do passado nem tão remoto assim, são palpáveis as memórias dos grandes êxitos do Festival de Verão de Marechal Deodoro e do Festival de Cinema de Penedo. Repetir isso é indispensável. Tanto se falou nisso durante as longas entressafras desse tipo de evento, que o festival cinematográfico penedense voltou à cena, já há vários anos. E o retorno das artes dos verões deodorenses está em estudos pela prefeitura local. Aplausos para os prefeitos Ronaldo Lopes, de Penedo, e André Bocão, de Marechal. E aplausos para as parcerias destas duas prefeituras nesses projetos. Sigam em frente, caminhoneiros! A estrada é essa.
PERSISTIR NO BOM CAMINHO é a maior lição, pois os ganhos imediatos, tão gordos quanto efêmeros, não são características das realizações nesta estrada boníssima, que é péssima para quem só enxerga multidões incalculáveis. Esse tipo de miopia, recorrente, se explica por uma ilusão de ótica baseada no imediatismo, na superficialidade e na facilidade. Sabe-se que as multidões se formam de repente, vapt-vupt, como num passe de mágica, defronte a palcos onde as estrelas da vez aparecem e desaparecem, ao custo de milhões, vapt-vupt. São êxtases-relâmpagos, conquistas tão sólidas que se desmancham no ar, vapt-vupt. Assim, só uma minoria muito resiliente, muito teimosa, pode insistir em investir (tempo, atenção e dinheiro) numa agenda que, em determinados itens, pode reunir 10 pessoas em torno da recitação de um poema.
RESISTIR É PRECISO. Sem desprezar, nem menosprezar, os sucessos comerciais da indústria cultural, é essencial perseverar na promoção dos formatos focados nas raízes e nas vanguardas de uma comunidade. Ouso repetir que o público-alvo preferencial para este tipo de iniciativa é o da rede de ensino (pública e privada) em cada localidade, e não o geral e/ou turístico (que devem ser valorizados, mas não como foco único). Cultura se aprende na escola, em primeiro lugar. Teria mais a escrever sobre isso, mas o farei depois, pois agora vou partir para não chegar atrasado ao I Encontro de Bandas de Pífanos de Marechal Deodoro; e nem lhe convido novamente, pois este texto será publicado no dia seguinte à apoteose pifeira.