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Alagoas teria uma “unanimidade eleitoral” em 2026?

“EM POLÍTICA, SÓ NÃO VI BOI VOAR!” é frase feita. Mas quem fala tal axioma, e observa as coisas com a devida acuidade, deve acrescentar “- Mas já vi o bicho batendo as asas!”. Apois é assim, nem bois, nem cavalos, voam – mas na batalha pelo voto, eles marcam carreira na pista, batem as asas, e, nalguns casos, decolam.
CIRCULOU COM FORÇA, há alguns dias, uma conversa sobre composição eleitoral inusitada, tipo 360º, visando as disputas majoritárias 2026 em Alagoas. O papo parecia querer contrabalançar a tendência óbvia do desenho Renan Filho para governador, Renan Calheiros para senador, com a segunda vaga senatorial destinada a ser ocupada numa ampliação ousada (assim se presume) dessa base emedebista.
ESSA CONSTRUÇÃO 360º especulou uma escalação que reuniria todo espectro político alagoano, ou quase todo. Essa fórmula seria Renan Calheiros para governador, Arthur Lira e JHC para as duas vagas senatoriais, estendendo-se em conjecturas sobre Fernando Farias para vice-governador. Se espalhou – nos primeiros momentos da fofoca – como fogo morro acima, ou água morro abaixo. Mas depois, silêncio sepulcral. O animal voador deu asas à imaginação, mas não decolou. Ainda.
MAS COMO TUDO, ou quase tudo, é possível na arte da política, a tese suscita análises. Justas elocubrações, pois o futuro de Alagoas, como sempre a cada quadriênio, está em jogo. E com reflexos, como sempre, na política nacional. Só no recorte 2025, estamos falando de um ministro de Estado, um ex-presidente da Câmara Federal e de um ex-presidente do Senado; três lideranças com acesso direto ao presidente da República e interlocutores de praticamente todas as forças políticas brasileiras. Vamos às obviedades:
ALAGOAS, DESDE 2020, apresenta um cenário político dividido em quatro grandes grupos (aqui por ordem alfabética): Arthur Lira & equipe; JHC & João Caldas; Marcelo Victor & Paulo Dantas; Renan Calheiros & Renan Filho. Daí têm surgido os desenhos para as disputas majoritárias e proporcionais. Desde 2022, a aliança principal – e mais sólida – é a construída entre Renan/Renan Filho e Marcelo Victor/Paulo Dantas. A parceria entre os grupos Arthur Lira e JHC/João Caldas é ocasional e sujeita a turbulências, mas funcionou bem nas duas recentes eleições municipais em Maceió.
EM SENDO QUATRO os principais grupos, nada impede um redesenho para 3 x 1, ou até (menos provável) 4 x 0. Os sinais apontam para uma composição dos grupos Renan/Renan Filho e Marcelo Victor/Paulo Dantas com JHC/João Caldas. São reais, e visíveis a olho nu, as marolas que têm como epicentro a batalha para a nomeação da procuradora Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça. Seria indicação de quase todo mundo junto no jogão 2026? Sei não. É preciso cuidado, pois tem vez que a jangada vira por conta do excesso de passageiros. E o mar do voto sempre é revolto.
PAULO DANTAS E RONALDO LESSA, individualmente, ocupam posições capazes de complicar o campeonato, sendo que o governador joga com as pedras brancas nesse xadrez, ou seja, tem o condão de se mexer primeiro. Embora esteja comprometido para governar até 31 de dezembro de 2026, e reafirme isso, Dantas se defronta com uma perspectiva desanimadora: pular, do maior posto no Estado, para o vazio. Não é simples.
UMA EVENTUAL RENÚNCIA do governador, coisa que pode acontecer até o comecinho de abril do ano que vem, deixaria Lessa na boca do gol, com condições privilegiadas para disputar a reeleição, contra quase tudo e quase todos. E o vice-governador foi bastante enfático ao desmentir a notícia falsa de que “se aposentadoria” em 2026. Outrossim, existem quadros políticos, fora do quadrado maior, que já comprovaram capacidade para superar situações complicadas, inovando e surpreendendo, a exemplo de Luciano Barbosa. Na política, solução fácil e simples é ilusão. Pode-se pagar para ver.