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O golpe militar de 1º de abril de 1964 e suas vítimas militares

Por Enio Lins 03/04/2025

NESTE MÊS, esta coluna tem como pauta principal o golpe militar de 1964. Menos pelo passado, mais pelo futuro, pois – no presente – a ideologia morta-viva que inspirou a quartelada há 61 anos está se bulindo com força, rebola na cova, frustrada e inquieta pela derrota da ação golpista de 8 de janeiro de 2023, em pânico por estar prestando contas à Justiça pela primeira vez em sua longa existência.

EM TERMOS HISTÓRICOS
, reafirme-se a denominação correta: Golpe militar. Basta dessa lenga-lenga de “golpe militar, civil, empresarial, patriarcal...” e não sei mais o quê. O rótulo se põe pelo setor que comanda o processo. De 1964 a 1985 quem mandou foi a gandola, até na Anistia e na Abertura. Civis golpistas? Muitos, todos coadjuvantes. E o empresariado? Está em todas, seja na democracia, seja nas ditaduras, e participa até nos processos socialistas. Não nos afastemos do nó da questão - o militarismo.

ENTENDER OS MILITARES
como se fossem algo unicelular é um mito. Essa fé cega na uniformidade corporativa é típica de uma fração que tenta forçar a maioria a ser solidária à minoria nalguma delinquência. É verdade que a ideologia da tropa é conservadora, e varia, dos praças até a alta oficialidade, em crescimento vertiginoso à direita. Quanto mais estrelas nas platinas (adereços sobre os ombros), mais à destra. Mas, mesmo no topo da pirâmide fardada, é significativo o número de oficiais profissionais, refratários ao envolvimento da tropa na política. As forças democráticas precisam dialogar com a caserna, como faz com qualquer outro segmento do serviço público, defendendo a cidadania, apontando os erros do militarismo e cobrando profissionalismo – mas sem acampar nos portões dos quartéis, por favor. O papel de vivandeira é privativo do extremo-bolsonarismo.

MILITARES DEMOCRATAS FORAM VÍTIMAS 
do golpe de 1964. Soldados que ousaram discordar da quartelada sofreram sob as patas da minoria fascistóide, tanto ou mais que a resistência civil. A violência foi usada sem moderação como método de enquadramento à voz de comando da banda podre. O primeiro cadáver produzido pelos militares golpistas não foi civil, mas um militar, o tenente-coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro. Exemplo de oficial legalista, no dia 4 de abril de 1964, foi metralhado dentro do QG do 5º Comando Aéreo Regional, no Rio Grande do Sul. Alvejado – pelas costas – com 16 projéteis disparados por um sobrinho do general Castelo Branco. Do chão, antes de morrer, teria conseguido acionar sua arma e ferir um dos oficiais golpistas. O tenente-coronel Alfeu foi o primeiro, mas não o único militar trucidado pelo golpe militar.

6.591 MILITARES PERSEGUIDOS 
pelo regime militar de 64: esta é a quantidade estimada nos levantamentos (ainda incompletos) da Comissão da Verdade, segundo reportagens da revista Superinteressante, publicadas em dezembro de 2019 e março de 2023. Detalha o Memorial pela Democracia: “entre 1964 e 1970 foram punidos pelo menos 1.487 militares: 53 oficiais-generais, 274 oficiais superiores, 111 oficiais intermediários, 113 oficiais subalternos e 936 sargentos, suboficiais, cabos, marinheiros, soldados e taifeiros. Novo surto de perseguição ocorreria nos anos 1980, no final da ditadura. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, entre 6.500 e 7.500 membros das Forças Armadas e das polícias militares foram perseguidos, presos, torturados ou cassados pela ditadura”.

DEMONIZAR OS MILITARES
em bloco é fazer o jogo da banda podre, mesmo desserviço prestado por quem os endeusa como coletividade una. O segmento militar precisa ser tratado – sem medo, nem preconceito – como todo grupo humano: diverso, contraditório. A questão central é que ninguém, fardado ou paisano, pode ficar acima da lei; nem pode jogar o jogo da política com uma arma em punho.

Links:

https://memorialdademocracia.com.br/card/regime-faz-expurgo-nas-forcas-armadas

https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/os-militares-perseguidos-pela-ditadura-de-1964.phtml

https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/a-nao-tao-falada-historia-dos-militares-perseguidos-apos-o-golpe-de-64.phtml

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