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1º de abril de 1964, o Dia da Mentira que durou duas décadas

COMPLETAM-SE HOJE 61 ANOS do golpe militar que mergulhou o Brasil num primeiro de abril que se estendeu por 20 anos, 10 meses e 15 dias (considerando a eleição da chapa Tancredo Neves e José Sarney), espalhando terror, assassinatos, torturas, perseguições, multiplicando a corrupção, desrespeitando os Direitos Humanos – apostando no mito de que a memória do povo é curta.
PODEM SER ACRESCIDOS mais 59 dias ao autoritarismo, considerando o intervalo entre a eleição (15/01/1985) e a posse de Sarney (15/03/1985), face o impedimento de Tancredo, hospitalizado em estado grave. Esse meio-tempo foi marcado pela tensão, pois os porões da ditadura ameaçavam impedir a posse de Sarney. Ao lado das forças democráticas, porém, se posicionou a maioria dos comandos militares sob a liderança do general Leônidas Pires Gonçalves, apoiando a devolução do poder político aos civis.
DUAS DÉCADAS ANTES, na véspera de 1º de abril de 1964, o general Olympio Mourão Filho, da IV Região Militar, em Minas Gerais, resolveu antecipar o golpe (planejado para data posterior). Segundo reportagem do site jornalia.com.br, “em seu plano original, Mourão previa sair de Juiz de Fora, no início da noite, com 2.300 mil homens. Cobriria os 200 quilômetros até o Rio de Janeiro em cinco ou seis horas. Antes de clarear o dia, tomaria de surpresa o prédio do Ministério da Guerra e o Palácio das Laranjeiras, onde estaria ainda dormindo o presidente João Goulart. Depois começava a caçar os comunistas”. Mas a “Operação Popeye” micou e os outros oficiais golpistas só assumiram a intentona quando ficou evidente que o presidente João Goulart, buscando uma solução pacífica, não daria a ordem para as tropas legalistas atacarem as forças amotinadas. Essa certeza só aconteceria depois das 18 horas do dia 1º de abril.
EM 10 ANOS, O GOLPE foi tentado por quatro vezes: 1ª) em 1954, para derrubar Getúlio Vargas, mas o velho caudilho se suicidou, ato extremo que, pela comoção popular, frustrou o golpe. 2ª) em 1955, armaram para impedir a posse do presidente Juscelino Kubitschek, eleito naquele ano. Para cingir a faixa presidencial, JK precisou que um oficial de grande coragem cívica, o general Henrique Teixeira Lott, promovesse um contragolpe militar e garantisse o resultado das urnas colocando tanques nas ruas. 3ª) em 1956, acontece a rebelião de Jacareacanga, comandada pelo major Haroldo Veloso e pelo capitão Chaves Limeirão, que durou de 10 a 19 de fevereiro. Derrotada, resultou na prisão e fuga dos líderes amotinados. 4ª) em 1959, foi a vez da revolta de Aragarças, sob o comando dos oficiais Haroldo Veloso (ele novamente) e João Paulo Burnier, com os golpistas realizando o primeiro sequestro de avião no Brasil. Enfrentados, os subversivos fardados resistiram por apenas dois dias, de 2 a 4 de dezembro. Na condição de presidente da República, comandante supremo das Forças Armadas, Juscelino Kubitschek perdoou todos os militares que o traíram em todas essas tentativas. Apostou na paz e na conciliação. E aqui relembro: JK foi um dos primeiros a ser cassado, perdendo, ainda em 1964, os direitos políticos (era senador por Goiás, o favorito para voltar à presidência em 1965) – e perdeu a vida em 22 de agosto de 1976, num “acidente” suspeito, assim como pairam suspeitas sobre as mortes “naturais” de João Goulart (1976) e Carlos Lacerda (1977).
1º de abril de 1964 é um dia que não pode ser esquecido jamais. Os golpistas mentiram há 61 anos e mentem até hoje, até porque mentir é a base de qualquer golpista, punguista, descuidista ou vigarista. Entre 1964 e 1985, mataram, torturaram, roubaram. E querem voltar a cometer os mesmos crimes. A saúde da Democracia no Brasil depende da preservação desta lembrança trágica como uma vacina, pois o vírus golpista continua vivo, ativo, hipócrita e mortal.