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Uma justa homenagem da UFAL a seus estudantes mortos pela ditadura

Por Enio Lins 29/03/2025

IRACILDA LIMA e EMANUELLE RODRIGUES são professoras e integrantes do Conselho Universitário, principal instância colegiada da Universidade Federal de Alagoas. Ambas encaminharam àquele órgão superior, no dia 14 de março deste ano, a proposta de reintegração e concessão dos diplomas póstumos a estudantes da UFAL que foram vítimas da repressão no criminoso período da ditadura militar (1964-1985). Uma iniciativa extremamente importante e integrante do anseio nacional de reconhecimento e valorização das pessoas martirizadas naqueles tempos autoritários. A proposta alcança três ex-estudantes, in memoriam: Gastone Beltrão, José Dalmo e Manoel Lisboa.

JOSEALDO TONHOLO
, reitor da UFAL, docente experiente e cidadão vinculado às causas da liberdade e da Democracia, acolheu a demanda e colocou o requerimento em pauta. A proposição das duas docentes será discutida e votada no dia 1º de abril, coincidentemente no 61º aniversário do golpe militar que impôs, pela força das armas e da ignomínia da tortura e de todos os tipos de violências, um Dia da Mentira e da Morte que se estendeu por 21 anos, até que a eleição da chapa opositora composta por Tancredo Neves e José Sarney derrotasse as candidaturas dos radicais militares e paramilitares no famigerado Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985. Na votação indireta, o placar foi de 480 x 180 a favor do restabelecimento da Democracia. Mas o débito pendente era (e é) enorme, pois a Anistia, efetivada pelos militares, em 1979, perdoou os crimes e os criminosos fardados e civis que perpetraram as mais terríveis agressões aos direitos humanos. A reintegração e diplomação póstuma de estudantes vítimas da ditadura militar é uma das muitas pendências brasileiras em aberto até agora.

GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO
– Era estudante da Faculdade de Economia da UFAL e militante da Juventude Estudantil Católica (JEC). Com a implantação ditadura, passou à resistência clandestina, mudando-se de Alagoas. Foi sequestrada e torturada pelos militares, e têm-se como dia de seu assassinato 22 de janeiro de 1972, cometido por agentes do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP).

JOSÉ DALMO GUIMARÃES LINS
– Estudante da Faculdade Direito na UFAL, foi expulso sob a acusação de envolvimento com a “subversão”. Atuou como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e posteriormente, tendo se mudado para o Rio de Janeiro, se vinculou à ALN (Aliança Libertadora Nacional), liderada por Carlos Marighella. Ele e a esposa Marilu foram presos e barbaramente torturados, o que causou graves danos à sua saúde física e mental, levando-o ao suicídio em 11 de fevereiro de 1971.

MANOEL LISBOA DE MOURA
– Cursava Medicina na UFAL e teve uma intensa atuação política como aluno e militante, atuando na União Nacional dos Estudantes (UNE), na Juventude do PCB, depois no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e, finalmente, no Partido Comunista Revolucionário (PCR). Foi preso, torturado e viveu na clandestinidade, até ser capturado novamente e, assassinado sob tortura, em 4 de setembro de 1973.

ESTA COLUNA
, na edição de 31 de agosto de 2024, publicou o artigo “Manter sempre viva a memória da resistência, uma necessidade da Democracia”, replicando ideia enviada por Lúcio Antônio Vieira da Rocha, médico e militante histórico do PCdoB, que sugeria: “as universidades alagoanas precisam diplomar postumamente as vítimas da ditadura, assassinadas antes da conclusão de seus cursos”. Assim, com grande emoção, esta página saúda a atitude da Universidade Federal de Alagoas. O ato será realizado no dia 1º de abril, às 9 horas, na Sala dos Conselhos, Reitoria, Cidade Universitária.

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