Posts
Uma Mulher Vestida de Sol iluminando as praças alagoanas

VERTENTE DAS MAIS ANTIGAS e mais populares no mundo, o espetáculo mambembe (ou Teatro de Rua, como queiram) é eterno, independente do avançar das tecnologias. Inclusive incorporando-as sem alterar sua essência básica – a ligação direta com o público, dispensando qualquer coisa além do chão. Nessa toada, Alagoas está sendo visitada pela trupe pernambucana do Grupo Grial, em momentos de grande beleza.
HOJE E AMANHÃ teremos os dois derradeiros espetáculos dessa turnê alagoana, em União dos Palmares, com o Giral se mostrando na Praça Costa Rêgo, sempre às 19 horas. Podendo ir, vá, não se arrependerá. Antes, nas noites do domingo e da segunda, Marechal Deodoro foi o palco premiado, no magnífico Largo de Taperaguá, tendo a centenária igreja do Bomfim como pano de fundo. Maceió foi brindada, sexta e sábado, com apresentações no Corredor Vera Arruda.
UMA MULHER VESTIDA DE SOL é peça escrita por Ariano Suassuna em 1947, aos 20 anos de idade, e considerada como o marco inicial de sua carreira como teatrólogo. O texto, uma tragédia daquelas, é concebido a partir de antigas obras, como Romeu e Julieta, e estórias bíblicas, tal qual a sempre citada passagem em Apocalipse, versículos 1 e 2: “(1) E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. (2) E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz”. A peça tem uma adaptação também para a televisão, exibida em 1994, pela Rede Globo.
50 ANOS DEPOIS de publicar a peça, Ariano Suassuna se associou à bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo na invenção do Grupo Grial, autodefinido (grupogrial.com.br) como “fundado (...) para pesquisar e criar uma linguagem de dança Armorial”. Já se vão, portanto, 28 anos de estrada, ruas, praças e palcos. Explica Maria Paula: “A relação entre erudito e popular foi o caminho escolhido para a elaboração de uma linguagem onde se inserem as visões de mundo herdadas dos povos indígenas, europeus, ibéricos e africanos”.
MARIA PAULA COSTA RÊGO tem um currículo e tanto, conforme se pode ler na página acervorecordanca.com/: “Inicia sua trajetória em dança no Colégio Mater Christie, aos oito anos de idade, no ano de 1971, com a professora Enila Rezende que utiliza a técnica de improvisação de Maria Fux, tendo aulas durante sete anos. Entra no Balé Popular do Recife em 1982, como estagiária (...) em seguida integra o corpo de baile e permanece no grupo por seis anos (...). Conclui o curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco em 1987 e ingressa no curso de pós-graduação em dança pela Universidade Federal da Bahia. Durante a década de 80, participa de vários cursos no Stúdio de Danças, com diferentes professores, como, por exemplo, Laura Proença. Em 1991 (...) ao ingressar no curso de Dança da Universidade de Sorbonne (França), onde realiza seu mestrado, entra em contato com a dança contemporânea”. Ainda em território francês, em 1992, passa a fazer parte do grupo de teatro de rua Les Passagers, conhecido por suas intervenções de dança na vertical. Para nossa sorte, retorna ao Brasil, e a partir de 1997, segue na senda da arte popular da mais alta qualidade.
HOJE E AMANHÃ, repito, quem não assistiu, terá a chance de assistir a esse belo espetáculo, desta vez em União dos Palmares, na Praça Costa Rêgo. E quem já viu, podendo, veja novamente. E questão muito importante – em cada cidade onde se apresenta nesta turnê, antes do espetáculo em praça pública, o Grupo Grial ministra dois cursos (oficinas) abertos: Dramaturgia na Dança e Elaboração de Projetos Culturais, em aulas com a própria Maria Paula. E mais: espetáculos e oficinas “de grátis”. Oportunidades de ouro, imperdíveis.