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Novamente sobre Tania Pedrosa e sua batalha cultural perene

Há mais de um ano, escrevi algo aqui sobre Tânia Pedrosa, fonte inesgotável para artigos e reportagens culturais. Naquele texto anterior, publicado em 6 de outubro de 2023, cronicava sobre a mostra “Das Lagoas ao Imaginário Popular”. A exposição marcava o 90º aniversário da artista, pesquisadora e colecionadora dedicada ao rico universo das artes populares. Incansável, neste final de ano, ela trata da saúde em Brasília, numa parada técnica, depois de participar da abertura de sua exposição no Rio de Janeiro.
UM LIVRO
Folheando “Arte Popular de Alagoas – O Livro da Tania”, belo brinde de Maria Fernanda Vilela & Advogados, considerei apropriado escrever algo mais sobre. A publicação em tela tem a assinatura da Querida Prudência Editora, empreendimento artístico de Juarez Orestes Gomes de Barros (pintor, poeta, escritor...). A publicação relembra textos de um monte de gente, formando um caleidoscópio de opiniões, avaliações, descrições sobre o trabalho da maior colecionadora das autênticas artes populares alagoanas.
OUTROS LIVROS
Tania tem outros livros antológicos: Arte Alagoas (I e II) e Arte Popular de Alagoas – este o principal catálogo das artes ditas populares (criadas majoritariamente por artistas sem qualquer formação acadêmica). São manifestações puras da “arte primitiva” ou “arte ingênua” (termos mais corretos, a meu ler, que o vocábulo “naïf”). Para quem se interessar, é possível encontrar exemplares desses livros no site www.estantevurtual.com.br, ou através do Sebastião, o Livreiro, pelo telefone (82)98155-9787. Corra – pois cada dia ficam mais raros nos alfarrábios.
UMA MILITANTE
Tania Pedrosa tem o mérito de impulsionar, como ninguém, as carreiras de quem faz arte-raiz. Nunca encarou isso do ponto de vista empresarial (não teria nenhum problema, pois ser marchand é atividade fundamental às artes), mas ajudou a tornar celebridade quem produzia obras primevas nos grotões interioranos. Com o apoio de pesquisadores incansáveis como Celso Brandão, Zezito Guedes e Jerônimo Miranda, ela catapultou para a fama muitos artistas até então desconhecidos, como Fernando da Ilha do Ferro, Petrônio, Resêndio, Dona Irinéia, João das Alagoas, Sil, Vavan, Manoel da Marinheira... Como escreveu Bruno César Cavalcanti, “Guardadas as proporções e distinções de contexto e de época, também de recursos e idiossincrasias, Tania de Maya Pedrosa para a arte popular, assim como Peggy [Guggenheim] para a arte moderna, realizou algo parecido quanto aos artesãos de Alagoas e do Nordeste”.
GARIMPANDO ARTE
Sem mirar fins lucrativos, coube à Tania caçar, adquirir, classificar e divulgar obras mil e miríades de artistas. Objetos de um tipo de arte, como relatou Cármen Lúcia Dantas, “em Alagoas como em todo Nordeste, é traço marcante da cultura regional, espalhado por toda parte, em pequenas e médias comunidades que vivem da atividade artesanal ou encontram nela uma fonte subsidiária da renda familiar. No campo, a atividade artesanal dilui-se no próprio cotidiano de homens e mulheres, retratando sua realidade”. Tania Pedrosa, com muita dedicação, contribuiu para o reconhecimento nacional e internacional dessas artesanias como objetos de arte pura, valorizada por retratar as realidades cotidianas da cultura da população economicamente mais sofrida.
PÁGINAS DE LUTA
“Arte Popular no Nordeste – O Livro de Tania” e um belo resumo do esforço dessa guerreira, cuja coleção enciclopédica das artes populares, em permanente crescimento, é uma botija nunca escondida. Boa parte desse acervo está sob a guarda do IPHAN/AL e disponível para visitação pública. Luta-se, há anos, num esforço coordenado por seu filho Sérgio Moreira, por uma adoção que, sob condições adequadas, torne legalmente público esse patrimônio privado. Que este livro auxilie nessa batalha cidadã.