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Ônibus reutilizáveis, suas utilidades, riscos e cuidados

Por Enio Lins 28/11/2024

Pelos relatos divulgados sobre o trágico acidente na Serra da Barriga, uma falha mecânica aparenta ter sido a principal causadora do acidente que matou 18 pessoas e feriu mais de 20. Sem prejulgamentos, deve-se esperar pela conclusão da perícia técnica. Mas, desde o acontecido, o episódio realça a necessidade de novos parâmetros preventivos para a segurança dos coletivos de segunda – ou terceira, ou quarta – mão.

RELATOS A OUVIR

Duas gravações chamam a atenção sobre o ocorrido. Um áudio, gravado por um homem que se identifica como a única pessoa que conseguiu saltar do ônibus antes do desastre, informa que o motorista avisou do rompimento da “mangueira do ar” e orientou que todos deveriam descer e aguardar os próximos ônibus; esse sobrevivente relata que, logo depois de ter desembarcado, o veículo – descontrolado – começou a recuar, de ré e, em menos de um minuto, desabou na ribanceira. Numa entrevista para a TV Pajuçara, a viúva do motorista revela ter seu marido, antes da viagem fatídica, lhe informado sobre um defeito na “mangueira de ar”. A ilação sobre uma falência no sistema hidráulico surge como hipótese provável. Com isso, é inevitável não se preocupar com as condições reais dos velhos ônibus, circulando como “alternativos” em todos os municípios, e, mui especialmente, utilizados no transporte escolar.

QUESTÃO SOCIAL

Na dura vida real dos negócios de baixa capacidade de investimento, longe do glamour do empreendedorismo idealizado das “pequenas empresas, grandes lucros”, circulam inúmeros coletivos de terceira idade, esbagaçados, depois de aposentados pelas empresas com maior poder patrimonial. São ônibus e micro-ônibus abduzidos quando a caminho do ferro-velho e devolvidos às rodovias de melhor forma possível, graças aos esforços de seus novos e dedicados donos, gente trabalhadora e esforçada, sobreviventes do próprio suor. Aparentemente, quando o empreendedor não é o próprio motorista, se estabelece uma relação precarizada entre um “proletariado autônomo” e uma “burguesia pobre”. Graças ao trabalho fiscalizador da ARSAL, e aos cuidados dos proprietários e/ou motoristas, ressalte-se a pouca ocorrência de acidentes com essas velharias em intensa circulação. O problema é a própria função de ser transporte coletivo, pois qualquer ocorrência (seja em veículos velhos ou novos), necessariamente, passa a ter relação com um número grande de vidas.

QUESTÃO COTIDIANA

No dia a dia, sem acidentes relevantes, esses idosos “busões” reutilizados cumprem sua função social, gerando empregos (mesmo precarizados) e renda (mesmo pouca) e atendendo (mesmo desconfortavelmente) a uma grande população usuária. Escrevo isso por experiência própria, como passageiro eventual de bravas vans velhas na rota entre as lagoas Mundaú e Manguaba. Fora um início de incêndio, cujo foco foi notado no painel de uma van, e prontamente debelado, nos idos de 2021, não testemunhei outro problema em sete anos de convivência com o transporte alternativo Marechal/Maceió. E nem me lembro de ter lido notícias de sinistros em Alagoas cuja constância tenha causado preocupações extras sobre essa modalidade de transporte de passageiros. Mas que é desconfortável, ah, isto é. Mesmo. A tragédia na Serra da Barriga, entretanto, faz acender o sinal laranja sobre esse sistema, cobrando novos projetos destinados a aumentar a segurança, intensificar os cuidados com a manutenção para além das vistorias previstas por lei, e melhorar as condições de trabalho dos profissionais envolvidos nessa lide.

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