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Cuidado com a desidratação: é a velha lição, agora vinda do Norte

Por Enio Lins 13/11/2024

Lauro Pedrosa, excelente enxadrista que, não por acaso, é brilhante médico, futucando nas entrelinhas do divulgado pela grande mídia sobre a recente eleição estadunidense, localizou um dado passado em branco para a maioria dos analistas de plantão: Donald, o Trump, ficou rigorosamente na mesma faixa de votos obtida na eleição anterior, não ganhou nem perdeu eleitores em quantidade significativa. Sua vitória foi definida pela deserção de eleitores do Partido Democrata.

VENCENDO SEM CRESCER

Em números arredondados, na eleição 2020, em votos diretos, Biden amealhou 81 milhões e Trump 74 milhões. Neste 2024, Trump ficou com os mesmos 74 milhões, enquanto Kamala pôs na mala 71 milhões de votos. Daí, Donald levou 312 delegados no Colégio Eleitoral que, indiretamente, o devolverão à Casa Branca. Mas seu eleitorado real, nominal, não cresceu em quatro anos. Os Democratas, no entanto, perderam 10 milhões de votos entre as duas eleições, o que também repercutiu na representação parlamentar, mas nem tanto assim – aqui citando números divulgados pela BBC –, com os Republicanos conquistando mais três cadeiras Câmara e mais uma cadeira no Senado. Como nos Estados Unidos tudo é confuso em termos políticos, até cromaticamente, os vermelhos ocupam agora 215 lugares na Câmara contra 206 dos azuis; e no Senado são 52 rubros contra 47 azulados. Para quem brada, por aqui, que sua bandeira jamais será vermelha, fica complicado. Mas todos entendem, ao fim e ao cabo, a ampliação do poder das forças mais reacionárias americanas.

DESIDRATAÇÃO DEMOCRATA

Com todo o fuzuê gerado em torno de Trump desde 2016 e com a histeria da direita americana em torno de sua candidatura neste ano, onde ocorreram fatos bizarros como o multimilionário Elon Musk desembolsando um milhão de dólares por dia para comprar votos (abertamente e respaldado pela justiça local); e tiros eleitoreiros triscando “milagrosamente” a orelha do candidato (e matando verdadeiramente uma outra pessoa), constatar que o eleitorado trumpista não cresceu é algo surpreendente. Existe esperança para a humanidade. Essas esperanças, entretanto, lá e no resto do globo, se concentram na capacidade (nada fácil) dos segmentos mais humanistas – nem é o caso de falar em “esquerda” – não desperdiçarem seus votos. Os 10 milhões de votos democratas americanos que escorreram pelo ralo deram vitória para a sarjeta.

CENÁRIO BRASILEIRO

Cá entre nós, a lição estadunidense merece atenção. A fossa brasileira entrou em efervescência com a vitória do cara para quem o do ex-capitão babou: “I love you!”. E sonha com sua própria erupção para daqui a dois anos. A direita extremada aposta em não perder votos e tem sequência semelhante a Trump, entre 2018 e 2024, com Jair obtendo (nos segundos turnos) 57 e 58 milhões de votos, respectivamente. Apostam que não desidratarão, e – inteligentemente – acenam ao centro. E as forças democráticas, o que farão para não perder votos? Desidratar não é fenômeno próprio dos democratas americanos. Nesse rumo, deve-se ter toda atenção às novas manifestações da velha doença infantil (diagnosticada pelo Dr. Vladmir Ulianov, em 1920). Influentes em suas bolhas, José Genoíno e Guilherme Boulos, em pronunciamentos distintos pós-eleições municipais, rimaram em condenação às alianças da esquerda com o centro, num perigoso negacionismo político. Além disso, existem outras pedras no caminho, como os cortes nos programas sociais, alto custo da sustentação num Congresso adverso etc. E agora, José? Todo cuidado é pouco para não perder o Norte.

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