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Ouvindo as vozes de populações antes silenciadas

Por Enio Lins 09/11/2024

Na próxima terça-feira, 12 de novembro, a Justiça Federal em Alagoas promove mais uma edição do Projeto Vozes. Apropriadamente alinhado com o Mês da Consciência Negra, o tema está voltado para a discussão do racismo (histórico e contemporâneo) e seus danos à população afrodescendente. As inscrições estão abertas, na internet, pelo link vozes

POLÍTICA JUSTA

“É essencial que as experiências de grupos como a população quilombola, as religiões de matriz africana e as vivências que identifiquem o racismo estrutural sejam ouvidas e compreendidas pelo Sistema de Justiça. Isso contribui para decisões mais justas e uma sociedade mais inclusiva e sobretudo antirracista”, assim se posicionou o coordenador do Projeto Vozes, juiz federal Antônio José Araújo, em texto divulgado pela assessoria de comunicação da Justiça Federal, onde destaca também a fala da juíza Flavia Hora, explicando que “a sensibilização promovida pelos relatos dos participantes, por si, seria um ganho para a formação humanizada de todos nós, a qual deve ser sempre contínua. Mas o Projeto Vozes não se limita a isso. Há oportunidade de que, do debate, resulte efetiva implementação, criação e aprimoramento de políticas públicas voltadas a diminuir desigualdades de toda sorte”.

OUVIDOS ABERTOS

“Através do diálogo com representantes de grupos historicamente marginalizados, o Projeto Vozes visa aproximar juízes, servidores, advogados, defensores públicos, promotores, estudantes e pesquisadores das experiências vividas por aqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica”, informa a comunicação do TRF5. O programa está em sua sétima edição e já frequentou segmentos altamente vulneráveis, como os moradores de rua (grupos que seguem contando com a solidariedade efetiva do Vozes). Esse tipo de política social, em atenção a parcelas da população sofredoras de históricas discriminações, é uma atitude merecedora de destaque e aplauso. Com gestos dessa natureza, a elite da magistratura brasileira reduz sua distância à base da pirâmide social. Distanciamento natural, posto vivermos numa sociedade de classes, e cuja redução exige iniciativas heterodoxas. Amplia-se, assim, o exercício da indispensável imparcialidade através da vivência e do debate desburocratizado, ouvindo-se vozes desses segmentos vítimas de históricas discriminações.

NOSSAS RAÍZES

Focando nas questões da afrodescendência, no Mês da Consciência Negra, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região dá mais uma prova de sua acuidade social e lisura histórica, ao ouvir as palavras sentidas das comunidades afro-brasileiras em Alagoas. Sim, vários são os grupos étnicos e sociais da afrobrasilidade, muitas são as pautas e diversos são os interesses dessa população cujos muitos tons de pele, distintos da brancura eurasiana, formam a maioria do povo brasileiro. Sim, a ampla maioria da gente brasileira exibe na pele a mistura das raças nativas, africanas e euroasiáticas, em todos os tipos de tonalidades distantes da brancura sonhada pelo racismo abjeto. A afrodescendência é majoritária no Brasil, seja na cor, seja na cultura; e precisa ser respeitada como tal, inclusive no arcabouço legal – de onde deve ser expurgada de toda e qualquer discriminação étnica.
Axé, e longa vida para o Projeto Vozes! Que soem os atabaques, os caxixis; e que não falte o bom xequeté – para temperar as gargantas.

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