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Transformando em realidade os sonhos das noites de verão
Citou o militante histórico Sérgio Barroso: “os sonhos não envelhecem”, remetendo a um dos versos escritos por Márcio Borges para composição de Milton Nascimento e Lô Borges, gravada em 1972, posteriormente relançada devidamente “letrada” em 1979. O processo de criação de “Clube da Esquina nº 2”, espaçando cerca de sete anos a fusão perfeita entre música e letra, mostra que os sonhos evoluem, aperfeiçoam-se e nem sempre brotam prontos e acabados. A citação foi feita há quatro dias, num encontro de jovens militantes das décadas 70 e 80 em torno da candidatura de Chales Hebert a vereador
SONHOS EM TRÂNSITO
Realizado na noite de quarta-feira, o evento reuniu uma parcela da militância canhota mais destacada nas (intensas) lutas políticas e sociais travadas nos anos 70 e 80, período marcado pelo fim da ditadura militar e pelo início da redemocratização, cujo marco foi a eleição de Tancredo Neves e José Sarney e a posse deste como presidente da República em 15 de março de 1985. Naqueles tempos, desde o golpe de 1964, circulavam sonhos como a eliminação do regime dos militares, o fim da censura prévia, a anistia, o retorno da eleição direta para presidente, a legalização dos partidos de esquerda, uma constituição democrática, um país sem inflação galopante... eram sonhos de todos os tamanhos e todas as cores, alguns próximos e simples, outros distantes e complexos como o socialismo, a reforma agrária, a igualdade e fraternidade universal.
O SONHADO VIRANDO REAL
Ao longo de meio século, muito do sonhado foi se transformando em realidade, contendo todas as imperfeições da vida real. Veio a anistia, a ditadura militar ruiu, a Constituinte fez-se com força e com ela as eleições diretas para presidente viraram regra, as urnas eletrônicas (que nem eram sonhadas) mandaram para o lixo os viciados processos do voto em papel, a centro-esquerda venceu cinco eleições presidenciais – duas com uma mulher ex-presa política, Dilma Rousseff, e três com um ex-operário industrial, Lula, que se transformou no maior presidente da República na história recente. Um saldo muito positivo, mas velhos pesadelos voltaram a assustar a democracia por conta da extrema-direita ter trazido do fundo da fossa excrementos como um ex-capitão transformado em mito do obscurantismo e do retrocesso, quando se imaginava tal tipo de assombração exorcizada pela Democracia. Puxa, como dizia aquele slogan da candidatura de Eduardo Bomfim, em 1986, “a luta não tem fim”.
SONHANDO O COTIDIANO
Naquela noite de 4 de setembro, sob o som da banda “Depois dos Anjos”, o congraçamento de gerações foi ambientado, por coincidência, no local onde funcionou, há 1/4 de século, o bar Nação Caeté, sonho de um bar cultural tocado por Lídia e (o saudoso) Dário Bernardes, casa que teve vida curta naqueles tempos, mas cuja ideia vicejou noutra geração, mesmo sem vínculo direto, por feliz coincidência, no contemporâneo Toca do Calango. Na organização do encontro pode ser citada mais uma prova da capacidade do sonho em vencer todas as dificuldades, na participação decisiva do também militante histórico Lúcio “Bolinho”, sob rigoroso tratamento médico, mas atuando na coordenação via zap, orientando e cobrando: “Convidou ‘Mago’ Adelmo?”, “lembrou-se do Gilsen ‘Cutia’?”. Pois é como cantou Raul Seixas em “Prelúdio”, gravada há exatos 50 anos: “Sonho que se sonha só/ É só um sonho que se sonha só/ Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Seguimos sonhando juntos, mudando o mundo – aos poucos, aos saltos e sobressaltos, com idas e vindas, mas mudando o mundo.