Firmado entre a República dos Países Baixos (Holanda) e o Reino de Portugal, foi chancelado - em 6 de março de 1661 - o Tratado de Haia, encerrando duas décadas de pendências entre as duas nações. A maior parte desses conflitos vinculava-se às dívidas cobradas pelos holandeses no pagamento dos investimentos feitos na produção de açúcar no Nordeste brasileiro durante o período da União Ibérica (1680/1640).

OCUPAÇÃO E DÍVIDAS

Com a assinatura do Tratado de Haia, os Países Baixos devolviam formalmente o território da Nova Holanda (Nordeste do Basil) ao reino português, mediante a indenização de oito milhões de florins, soma equivalente a 63 toneladas de ouro. Escondida sob o manto de mais de quatro séculos de mitos, a essência dessa paga monstruosa está ligada principalmente ao grande calote dado nos bancos holandeses pelos senhores de engenho e negociantes em geral. Esses débitos teriam sido contraídos quando da presença holandesa, entre 1630 e 1654. Neste período Portugal havia perdido a soberania para a Espanha, que estava em guerra com os Países Baixos e estes resolveram retaliar ocupando a colônia brasileira (àquele tempo espanhola) em sua porção produtora de açúcar. Com a reconquista da independência de Portugal em 1640, os batavos foram relaxando suas tropas e sua vigilância no Nordeste, mas mantinham o controle de seus negócios nesta parte do Brasil. Haviam investido muito dinheiro por aqui, seja no financiamento dos engenhos de açúcar, seja em obras públicas – como a construção de uma nova e moderna cidade, Recife (a Mauricéia).

CALOTE E GUERRA

Aproveitando-se desse relaxamento militar, os senhores de engenho e outros devedores dos bancos batavos promovem uma “insurreição patriótica” contra os “invasores holandeses” e, em duas batalhas nos morros dos Guararapes (em 1648 e 1649), derrotam as tropas remanescentes deixadas pela Companhia das Índias Ocidentais. Em consequência, são expulsos os flamengos e suas instituições bancárias que teimavam em receber os empréstimos feitos ao longo dos 15 anos de poder da Nova Holanda. Os Países Baixos entraram abaixadinhos em tentativas diplomáticas junto à Lisboa para receber de volta (com juros) os investimentos feitos, sem sucesso. Até que ameaçaram reunir tropas de verdade e invadir novamente o Nordeste para recuperar, na marra, tudo o que consideravam deles. Enfim, em 6 de agosto de 1661, Portugal decidiu pagar o cobrado para evitar a iminente nova invasão de sua rica colônia. Mas, naturalmente, essas 63 toneladas de ouro que Portugal pagou à Holanda eram de ouro brasileiro, ora pois-pois.