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4 de agosto: em 1578, Dom Sebastião, rei de Portugal, desaparece

Por Enio Lins 04/08/2024

Dom Sebastião I assumiu o trono de Portugal aos 14 anos de idade, em 1568. Era um garoto marcado pelo fanatismo religioso e por sonhos de glórias militares. Católico devoto e carola, teria permanecido virgem como opção de “pureza”. E, no vigor de seus 24 anos, resolveu descarregar a adrenalina e a testosterona acumuladas numa aventura guerreira inspirada nas Cruzadas: decidiu invadir o Marrocos e conquistar aquele reino muçulmano nas costas da África para o mundo da cristandade.

AVENTURA FATAL

Usando a desculpa de atender a um pedido de socorro de um nobre marroquino, Mulei Mohammed, que argumentava ter sido deposto do trono por seu tio, Abu Maleque I (que a propaganda lusitana da época apelidou de “Mulei Maluco”), Dom Sebastião juntou seu exército e partiu com gosto de gás para se tornar um herói militar e conquistar, no fio da espada, mais um território para o império português, desta vez como um valoroso cruzado derrotando um rei muçulmano. Perdeu tudo nessa empreitada.

DERROTA NAS AREIAS

Também chamada de “A batalha dos três reis”, por envolver o rei de Portugal e seu aliado, o rei deposto do Marrocos, contra o rei efetivo marroquino, a Batalha de Alcácer-Quibir foi uma tremenda derrota lusitana, cujas consequências desastrosas se expandiriam do campo de combate e minariam todo império português. Os marroquinos cravaram esse nome para essa batalha porque nenhum dos três reis sobreviveu a ela, inclusive o vitorioso Abu Maleque. Mas essa perda não causou problema de continuidade na dinastia saadiana, pois ao sultão morto sucedeu naturalmente seu irmão Amade Almançor.

REI DESAPARECIDO

Dentre os mortos na sangrenta batalha estava a “nata” da nobreza portuguesa daquele tempo, mas o corpo do jovem rei de Portugal não foi localizado na montanha de cadáveres produzida em Alcácer-Quibir. Dom Sebastião simplesmente sumiu do mapa. Versões davam conta de que o monarca teria sido feito prisioneiro pelas tropas vitoriosas de Abu Maleque I, que negociando com os espanhóis, o mantive em cárcere secreto até sua morte de verdade, que teria ocorrido três anos depois, em 22 de setembro de 1581.

PORTUGAL-COLÔNIA

Versões à parte, o fato é que o desaparecimento de Dom Sebastião provocou uma tremenda crise sucessória (não tinha filhos) que o vizinho e poderoso Rei Felipe II da Espanha se aproveitou e, argumentando laços de sangue com a família real lusitana, invadiu o território português e colocou a coroa do monarca sumido na própria cabeça, tornando-se o Rei Felipe I de Portugal. Dominado pela Espanha, o reino português desapareceu como poder independente, passando a fazer parte, como colônia disfarçada, da União Ibérica, estado imperial que existiu durante 60 anos, até 1640, quando os portugueses reconquistaram sua independência em nova guerra contra a Espanha.

O BRASIL ESPANHOL

Nesse período de seis décadas, entre 1580 e 1640, o Brasil, na condição de colônia portuguesa, virou espanhol. E como a Espanha estava em guerra com a Holanda, os holandeses invadiram o então território espanhol do Nordeste brasileiro e o resto desta história todo mundo sabe. Não por coincidência fortuita, anos depois, o culto messiânico a Dom Sebastião (crença no retorno mágico do "Rei Envultado”), popular entre os lusitanos de origem mais humilde aflorou entre os nordestinos pobres, inclusive causando tragédias como a retratada por Ariano Suassuna no livro “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, mais conhecido como “A Pedra do Reino” – mas aí são outras histórias.

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