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Novos e velhos caminhos para o empreendedorismo histórico-cultural

Por Enio Lins 01/08/2024

Em 155 anos de existência, o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas tem um vasto currículo de seminários, palestras, cursos, visitas guiadas – eventos realizados em parcerias com universidades, centros de pesquisas, escolas de todos os níveis etc. Nesse histórico não é novidade o ciclo de debates finalizado ontem, o primeiro sobre o Cangaço realizado em 2024, mas uma novidade marca o evento dos dias 30 e 31 de julho: a parceria em projetos voltados para empreendimentos culturais envolvendo o SEBRAE e entidades das mais variadas. Aplausos para Jayme de Altavilla, Luiz Otávio Gomes e Vinícius Nobre Lages, e aplausos para as equipes operacionais do SEBRAE e IHGAL.

CAMINHO NECESSÁRIO

Parcerias de longo prazo são indispensáveis para a viabilização das políticas e dos empreendimentos culturais, atividades com escopos bem distintos, em termos do público e do privado, mas irmãs siamesas. Modelos de custeio apoiados exclusivamente em ações governamentais não mais se sustentam, apesar do acesso às verbas públicas ser um direito inalienável do segmento. O grande desafio é a busca e ampliação dos espaços junto à iniciativa privada, sejam empresas ou ONGs, e a difusão dos valores e dos potenciais da memória, do patrimônio histórico, dos saberes e modos de fazer de cada comunidade é um primeiro passo, gesto que precisa ser perenizado em reedições criativas, ágeis no formato e profundas no conteúdo, para que esse caminho posa se concretizar. E o SEBRAE é protagonista e parceiro fundamental nessa construção.

UM EXEMPLO

Insistindo (apenas como um exemplo entre muitos) no tema do caso de sucesso de ontem e anteontem, “Cangaço”, é importante salientar alguns produtos culturais, de alto valor material e cultural, que tiveram no acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas um de seus componentes vitais. Cito apenas duas das muitas ocorrências: o livro “Apagando o Lampião”, de Frederico Pernambucano de Mello, e o filme “Baile Perfumado”, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Na premiada publicação, o pesquisador pernambucano apresenta elementos inéditos sobre a chacina de Angicos e particularmente sobre a morte de Virgulino Ferreira, ao comparar o depoimento de Sebastião Vieira Sandes, conhecido como Santo, com as marcas deixadas pelas balas nos pertences de Virgulino preservados no IHGAL. Sugiro a leitura. No longa-metragem, ganhador do prêmio de Melhor Filme Brasileiro no Festival Internacional de Cinema de Brasília em 1996, o mesmo acervo resguardado no IHGAL foi base para a pesquisa do figurino vitorioso. Esse mesmo acervo segue lá, no Museu do Instituto Histórico, apto para fundamentar novas obras e novos empreendimentos.

AMPLO ESPECTRO

Conforme debatido nos dias 30 e 31, esse potencial histórico e cultural, absolutamente, não se restringe ao preservado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas em seu museu e em seus arquivos gerais. Esta riqueza potencial está em todo estado, vide os sítios das histórias do Quilombo do Palmares, Calabar, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Nise da Silveira, Maria Mariá, Joana Gajurú... os museus resguardam apenas partículas desses magníficos patrimônios. Nos muitos cantos alagoanos como a Ilha do Ferro, sua ambiência e seu artesanato; Capela e as artes em barro de João de Alagoas e seus discípulos e discípulas; Olho d’Água do Casado e a reserva ecológica do Castanho e seu núcleo turístico/histórico organizado por Eliseu Gomes; Viçosa e sua tradição literária e boêmia; Marechal Deodoro das rendas, da música e acervo arquitetônico; Penedo dos monumentos e dos bordados... são potenciais gigantescos para a multiplicação de emprego e renda baseados na cultura e na história.

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