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Cuidado necessário para o poder usurário não tomar conta de tudo

Por Enio Lins 05/07/2024

Muita celeuma em torno da alta do dólar, das falas do Lula e da ululante dependência do Banco Central aos usurários mais extremistas. Manter a economia em crescimento, priorizando os setores produtivos e os investimentos sociais é o fundamental – e isso só pode ser feito em acordo com os tubarões, donos do tal mercado.

FREIO DE ARRUMAÇÃO

Para se chegar a um acordo em novas bases é-se necessário sacudir o mofo conservador, açular o debate, questionar os andamentos em curso. Ou nada acontece, pois a correlação de forças é desfavorável para quem fez o L para presidente, pois o voto para o Congresso Nacional não acompanhou essa letra. Assim, é positiva a crítica insistente à política especulativa do BC e ao desserviço prestado por um gestor (Bob Fields Neto) que compromete a autonomia do Banco Central ao se prestar ao papel de cabo eleitoral do bolsonarismo mais abjeto. A questão é saber o momento certo de esticar e de afrouxar a linha para que os tubarões não virem o barco em solidariedade ao cação sob vara. Mas, ao fim e ao cabo, todo mundo sabe que o mandato do netinho de recados se extingue no final deste ano e que mudanças virão.

MUNDO EM TORVELINHO

Verdade seja dita: os pulos do dólar não têm nada a ver com as lapadas dadas por Lula no lombo do neto de Bob Fields, pois a moeda americana subiu, simultaneamente, em mais 84 países além do Brasil. Alta mundial vinculada aos problemas da economia global e, no particular, ao viés de alta na inflação americana, conforme lembra reportagem no UOL. A crise internacional é de tal magnitude que produz cenas patéticas como o elogio seboso do FMI a Javier Milei, que “teria resolvido” a tragédia econômica de los hermanos e o anúncio, dias depois, de que a Argentina entrou em recessão técnica por conta do pulo pra trás dado do PIB em -5,1% no primeiro trimestre, depois de ter encolhido outros 2,6% em comparação com o último trimestre de 2023 – desastre este depois dos pesados cortes feitos pelo presidente “minarquista”. No dia 1º de julho, o site Inteligência Financeira estampou: “Acima de 1.400 pesos: cotação do dólar paralelo bate novo recorde na Argentina” e complementou “Alta pode ser explicada pela alta na demanda de dólares no país após o pagamento de bônus e outros rendimentos extras e a expectativa de queda no ritmo de compra de dólares pelo BC Argentino”.

ACORDO INDISPENSÁVEL

Como bem disse José Dirceu, Lula teve de montar um governo de centro-direita por conta das condições políticas definidas pelas eleições de 2022, que elegeu um presidente de centro-esquerda e um Congresso Nacional de direita. O ex-ministro declarou isso no Seminário Brasil Hoje, em 22 de abril deste ano. E mais: mesmo que o governo fosse de centro-esquerda ou de esquerda, ainda assim teria de construir um entendimento com o sistema usurário, pois o poder do mundo especulativo (e não apenas financeiro) é inegável e real. Quando Lula capricha nos cascudos no Bando Central, está marcando posição para melhorar sua posição num acordo em seguida, acerto nada fácil devido a essa questão estratégica apontada por Zé Dirceu. Reduzir o juro básico, a tal Celic, é a tática da hora para reaquecer a economia, evidentemente. A dificuldade é conseguir isso contra a vontade de um Banco Central dependente, subserviente, prostrado ao pior do rentismo internacional. Então, tomando o cuidado para não exagerar e machucar demais o mundo da usura, Lula está certo ao cutucar Bob Fields Neto. Acocha aqui, alivia acolá. Não é nada pessoal, é política nacional.

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