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Fim de um sonho de um dia de verão?

Por Enio Lins 10/05/2024

Armagedons? No Rio Grande do Sul, o povo está se acabando pela água, e 100 pessoas já haviam morrido na contabilidade feita até quarta-feira, além de374 feridos e 130 desaparecidos. Na Faixa de Gaza, o povo está morrendo pelo fogo, com mais de 30 mil pessoas assassinadas e 67 mil feridas (em números de fevereiro deste ano).

PALESTINA EM CHAMAS

Em 1948, Oswaldo Aranha, Secretário-Geral da ONU (único brasileiro a ocupar esse posto até hoje), apresentou a proposta das Nações Unidas: 53% do território da Palestina para os judeus, 47% para os palestinos, administração internacional para Jerusalém, por ser sagrada para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Os árabes contestaram, pois perderiam 53% do território e porque acreditavam que os sionistas avançariam com gosto de gás sobre os 47% restantes. Os sionistas decretaram-se logo como país independente, formando Israel antes da ratificação do plano da ONU. Os países árabes vizinhos reagiram e a guerra interminável começou. Ao longo destes 76 anos, como os pessimistas previram, Israel avançou implacavelmente e tomou conta de praticamente todo espaço que seria do Estado Palestino.

ERA UMA VEZ A PALESTINA

Do que deveria ser o “Estado Palestino” havia sobrado apenas 25% antes da matança em curso. Até 2023, nos 365 km² da Faixa de Gaza, espremiam-se 2,1 milhões de árabes nativos, e sobre essa nesga superpovoada, na terça-feira, Israel marchou com seus modernos tanques sobre Rafah, fronteira com o Egito. Aquela terra palestina, na prática, já era, e caminha para ficar 100% sob comando israelense, no que se anuncia como mais uma tremenda tragédia humanitária. À leste, nos 5.640 km² da Cisjordânia, onde vivem 3,3 milhões de palestinos, Israel também avança rapidamente, mesmo sem guerra “oficial”, usando seus colonos (fortemente) armados como ponta-de-lança “civil”.

SAUDADES DA OLP?

Em 1964, quando os palestinos resolveram se organizar e falar por si, dispensando a voz dos países árabes “apoiadores”, a Organização para a Libertação da Palestina foi rotulada como “terrorista” pelos sionistas e pelos Estados Unidos. Depois de mais de 20 anos recusando-se a reconhecer Israel, a OLP passou a aceitar a “solução biestatal” em 1988. E, em 1993, Yasser Arafat, fundador e presidente da OLP, em carta oficial dirigida a Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense, reconheceu o Estado de Israel, que em troca, reconheceu a OLP como a representante legítima do povo palestino. O sonho da paz no Oriente Médio voltou a acalentar o mundo. Mas se dissipou logo. Em 1995, Rabin foi assassinado por um terrorista judeu. Em 2004, Arafat morreu de forma misteriosa.

HAMAS AMA ISRAEL?

Depois das mortes de Rabin e Arafat, líderes que ousaram se entender, a OLP foi cercada e minada na liderança da Autoridade Palestina, e o Hamas – após o assassinato, por Israel, em 2004, de seu líder Hassan Yassin – cresceu militar e politicamente sob suspeitas de financiamento sionista, derrotando a OLP na administração de Gaza em 2007 e passando a confrontar Israel na forma que a poderosa extrema-direita israelense sempre desejou. Seu misterioso ataque em outubro de 2023 (quando, inexplicavelmente, furou o inexpugnável sistema de defesa de Israel) resultou na justificativa para o massacre imposto aos palestinos desde então. Como tem repetido o genocida Bibi Netanyahu, suas tropas não se deterão até alcançarem 100% de seus objetivos: ocupação de 100% do território palestino e destruição de 100% da identidade palestina na região, aí incluso o Hamas (que lhe tem sido tão útil).

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