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Uma enchente de notícias falsas e criminosas
Ontem aqui foi abordada a questão da “revolta nas redes sociais” que perseguiu o jornalista Jean Galvão por causa de uma excelente charge sobre a tragédia da enchente no Rio Grande do Sul. Hoje vamos um pouco mais adiante nessa temática, visitando uma reportagem da BBC Brasil intitulada “Fake news da tragédia no Sul: 'Zombam da vida alheia e tripudiam sobre os mortos', diz especialista”.
TEMPESTADE DE MENTIRAS
Numa leitura apressada, a longa manchete parece insistir em acusação semelhante à direcionada ao chargista da Folha. Parece, mas não é. Essa matéria da BBC Brasil é coisa séria, e como o dito antes dos dois pontos, foca no papel nocivo e extremamente organizado da indústria brasileira de notícias falsas.
DESUMANIDADES
Na reportagem, assinada por Felipe Souza e Flávia Marreiro, o cenário está corretamente sintetizado: “Milhares de agentes do poder público e voluntários fazem resgates e se esforçam 24 horas para socorrer as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Enquanto isso, no entanto, outro exército se mobiliza nas redes sociais para criar e distribuir informações falsas sobre a tragédia”.
ALVOS PREFERENCIAIS
Desde quando o desastre se acentuou e o assunto despertou a atenção de todo país, as forças da desinformação passaram a nadar de braçada, inventando e plantando falsas informações direcionadas contra alvos políticos e ideológicos, seja nos governos estadual e/ou federal ou mesmo ecologistas em geral.
NOTAS FALSAS
Chamou a atenção a BBC que “algumas das [fake news] que mais se destacaram no último fim de semana foram as informações falsas de que o governo [estadual] havia se mobilizado para multar os barqueiros que fazem o resgate das vítimas e a de que o governo federal teria patrocinado o show da Madonna no Rio de Janeiro”.
POLÍTICA E DINHEIRO
Fernanda da Escóssia, professora de Comunicação Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), explica que “influenciadores digitais ganham dinheiro com a divulgação de notícias falsas nas redes”, recursos que são captados de empresas “a partir da monetização de conteúdo publicado em suas plataformas”, num movimento chamado por ela de “profissionalização das fake news”.
FATURANDO COM A DOR
“Mais uma vez, o sistema da desinformação se articula para utilizar a dor da tragédia para obter engajamento, monetizar e fazer crítica política”, afirmou Escóssia, acrescentando: “o conteúdo falso é geralmente repassado com um senso de urgência, com pedidos para compartilhá-lo imediatamente com o maior número de pessoas possível” e que “ainda há muita dificuldade para o leitor diferenciar o que é verdadeiro e falso”.
DESVIANDO A ATENÇÃO
Também editora do site “Aos Fatos” (plataforma de pesquisa contra a desinformação) Fernanda alerta que “nesse ecossistema, a desinformação zomba da vida alheia, tripudia sobre os mortos e não se constrange em produzir conteúdos falsos com o objetivo de conseguir cliques, engajamento e monetização por adesão a um posicionamento político”, destacando que as notícias falsas desviam a atenção para problemas inexistentes, prejudicando os esforços de salvamento reais.
REMÉDIOS DISPONÍVEIS
Contra o crime organizado das notícias falsas o remédio é, obviamente, procurar sair das bolhas e conferir as informações através do confronto entre publicações de veículos com diferentes orientações políticas, e – especialmente – buscar as plataformas de checagem da veracidade das notícias divulgadas em massa. E não se omitir nesse debate, denunciando o identificado como falsidade.