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Suel e sua pintura onírica, múltipla, em cartaz no CESMAC

Por Enio Lins 20/04/2024

Quem não viu, veja. A rota é certa, segura, não desvie: Galeria Fernando Lopes, CESMAC, bem ali, na Rua Cônego Machado, Farol. Suel é um dos mais importantes artistas plásticos contemporâneos em Alagoas. Teve como ponto de partida, se não me engano, o muralismo – foi nessa seara, em paredes alheias, onde vi pela primeira vez seus trabalhos, ainda no século XX. Pois bem, uma seleção de obras dele está à sua disposição no espaço citado nas duas primeiras linhas – vá lá, e não se arrependerá.

VELA INFLADA DE ARTE

Na exposição “Rotas e Desvios” se pode (re)ver, por exemplo, uma obra antológica do projeto Velas Artes, na imorredoura versão “tinta sobre vela” – meu formato predileto, pois mantenho certa cisma com as artes plásticas virtuais, exuberantes, mas efêmeras em suas projeções. O trabalho a que me refiro é coisa sólida que não se desmancha no ar, velame mágico, retratando o bruxo Hermeto Pascoal e que, nos idos de 2015, teve a Praia de Pajuçara como primeira galeria. De relance, o grafismo com o gênio de Lagoa da Canoa lembra o foco das fantásticas capas de LPs criadas por Elifas Andreatto (1946/2022) para alguns dos melhores discos da MPB nos anos 70/90. Essa obra genuinamente alagoana, originalmente exposta ao vento onde o mar beija a areia, sugere-se como dupla homenagem a Hermeto e Elifas.

TALENTO ESCANCARADO

Nada em “Rotas e Desvios” se desvia da rota de extrema qualidade do desenho de Suel, uma de suas marcas registradas, como se pode ver nos extasiantes pássaros antropomórficos que bem poderiam trabalhar como deuses egípcios. No impecável traço dele estão explicitadas as dicas ancestrais da composição gráfica: proporção áurea, perspectiva clássica, linhas firmes, cores vibrantes, simbologia compreensível, plasticidade, elegância, impacto visual... Leio como um equívoco tolo certas teorias sobre a dispensabilidade de talento para a confecção de uma obra de arte contemporânea – opinião deste mero espectador que sempre se emociona com a habilidade manual, a inteligência gráfica capaz de impactar pela forma, em reforço ao conteúdo - evidentemente.

ESTILOS DIVERSIFICADOS

Suel não se detém num estilo único, passeia por escolas variadas, com visível queda pelo surrealismo, nicho onde pousa e ousa com certa frequência. Mas é retratista-realista também, abstrato quando lhe convêm, paisagista aqui, tridimensional ali. Anarquista em essência, livre de partidarismos e sempre posicionado na vanguarda de causas que julga merecer sua atenção. A tela da série “Casa de Praia”, por exemplo, pintada em figurativismo convencional, é tocante na abordagem das contradições sociais, impacta sem lançar mão de panfletarismos fáceis, e emblemática nos detalhes, como numa reprodução de Mondrian usada “à toa” como rodapé no barraco– me lembrou do marcante “roda-teto” feito com latas de óleo (abertas e unidas numa faixa multicolorida) numa velha e pobre casa de taipa, vizinha (por muitos anos) à exuberante tuia dos Sete Coqueiros, antes da urbanização da paia de Pajuçara, então lugar acessível apenas por trilhas de barro e areia.

PARABÉNS!

Aplausos para o artista! O grande Suel expõe, em “Rotas e Desvios”, uma ampla, bela e representativa panorâmica de seus primeiros 35 anos de trabalhos artísticos – siga adiante, caminhoneiro, você tem muita estrada pela frente. Palmas para a magistral curadora Carol Gusmão (sugiro apenas recolocar seu retrato na mostra). Vivas para João Sampaio (Reitor), Douglas Apratto (Vice-Reitor), Cláudia Medeiros (Pró-Reitora Acadêmica Adjunta), Rodrigo Guimarães (Coordenador-Geral de Extensão) e toda equipe – o CESMAC segue brilhando em sua missão cultural, educativa e cidadã.

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