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30 de março, há 60 anos: a reunião no Automóvel Clube
Na noite do penúltimo dia do mês de março de 1964, com o golpe em plena efervescência, o presidente João Goulart compareceu, como convidado de honra, à solenidade pelo aniversário de 40 anos da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar. Conforme o protocolo, falou na ocasião.
Na ebulição das águas de março de 64, haviam acontecido outras reuniões importantes com as bases militares nos dias anteriores, e uma rebelião dos marinheiros foi controlada pouco antes. Os oficiais superiores nas três armas estavam em polvorosa, acusando o presidente da República – o comandante supremo das Forças Armadas – de tentar estabelecer uma “linha direta” com os subalternos.
Entidade de passado aristocrático, o Automóvel Clube tinha uma imponente sede de fachada neoclássica, localizada na Rua do Passeio, nº 90, centro do Rio de Janeiro. Sessenta anos depois, o palacete se encontra fechado (desde 2004) e a prefeitura pensa em transformar o imóvel num “hub de energia e finanças”.
João Goulart, segundo as crônicas daqueles dias, chegou ao clube por volta das 20 horas, acompanhado pela esposa, Maria Thereza; pelas principais autoridades militares da época: General Assis Brasil, chefe do Gabinete Militar; Almirante Paulo Rodrigues, ministro da Marinha; Brigadeiro Anísio Botelho, ministro da Aeronáutica. E, representando os ministros civis, Aberlado Jurema, da Justiça; Amaury Silva, do trabalho; Expedito Machado, de Viação e Obras Públicas; e Wilson Fadul, da Saúde.
Jango falou às 22 horas e leu seu pronunciamento, considerado mais forte que os anteriores. Denunciou o golpe em andamento e defendeu as reformas de base. Defendeu também a disciplina e a hierarquia militares. Seu pronunciamento foi transmitido por alguns canais de TV e rádio apenas para o Rio de Janeiro. Foi a derradeira vez que João Goulart proferiu um discurso como presidente da República
Primeiros parágrafos do discurso de João Goulart, presidente da República:
“A crise que se manifesta no país foi provocada pela minoria de privilegiados que vive de olhos voltados para o passado e teme enfrentar o luminoso futuro que se abrirá à democracia pela integração de milhões de patrícios nossos na vida econômica, social e política da Nação, libertando-os da penúria e da ignorância.
O momento que estamos vivendo exige de cada brasileiro o máximo de calma e de determinação, para fazer face ao clima de intrigas e envenenamentos, que grupos poderosos estão procurando criar contra o governo, contra os mais altos interesses da Pátria e contra a unidade de nossas Forças Armadas.
Para compreender o esquema de atuação desses grupos que tentam impedir o progresso do país e barrar a ampliação das conquistas populares, basta observar que são comandados pelos eternos inimigos da democracia, pelos defensores dos golpes de estado e dos regimes de emergência ou de exceção.
Na crise de 1961, os mesmos fariseus que hoje exibem um falso zelo pela Constituição, queriam rasgá-la e enterrá-la sob a campa fria da ditadura fascista. Tudo isto é história recente, que não pode ser repetida, porque está indelevelmente gravada na memória do povo brasileiro".
(...)”
Leia o discurso na íntegra:
https://brasilindependente.weebly.com/uploads/1/7/7/1/17711783/discurso_jango_automovel_clube.pdf